Postado em: 03/03/2023

CLIPPING AHPACEG 03/03/23

ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.

DESTAQUES

Piso da enfermagem lidera participação popular nos canais da Câmara dos Deputados em 2022

Como funciona a vacina universal contra gripe, que pode estar disponível em dois anos

Hapvida precisa reduzir sinistralidade, mas tem liquidez financeira, diz Fitch

Operação cumpre mandados em investigação de desvio de dinheiro em OS que administrava hospitais de Goiás durante a pandemia

Anvisa aprova 1ª vacina contra a dengue de uso amplo; eficácia é de 80%

Aumento da obesidade preocupa especialistas

Saúde prepara campanha de vacinação contra monkeypox após risco de perder doses

Inovação social farmacêutica para doenças raras

Do cinema aos hospitais

Artigo - Por que as mulheres ainda recebem menos que os homens na medicina?

AGÊNCIA TOCANTINS

Piso da enfermagem lidera participação popular nos canais da Câmara dos Deputados em 2022

O projeto de lei que institui o piso salarial nacional dos profissionais de enfermagem foi o que mais mobilizou os usuários dos veículos de comunicação e redes sociais da Câmara dos Deputados no ano passado. A proposta atingiu 3,6 milhões de interações, que se somam aos 2,2 milhões de interações da proposta de emenda constitucional que inclui esse piso na Constituição. Essa proposta está no terceiro lugar do ranking. Tanto o projeto como a emenda foram aprovados e estão em vigor.

O segundo lugar do ranking é a proposta de emenda constitucional da reforma administrativa, que foi apresentada pelo governo passado, em 2020. Ao contrário do piso da enfermagem, que registrou maioria de votos e comentários favoráveis, a reforma administrativa obteve maioria de votos de usuários contrários. Veja abaixo os dez primeiros lugares do ranking:

1) PL 2564/20 - Cria o piso salarial nacional da enfermagem

Interações: 3.650.856

Situação: virou lei

2) PEC 32/20 - Reforma administrativa

Interações: 2.642.083

Situação: pronta para votação no Plenário da Câmara

3) PEC 11/22 - Coloca o piso salarial da enfermagem na Constituição

Interações: 2.283.466

Situação: virou emenda constitucional

4) PEC 15/22 - PEC do Estado de Emergência

Interações: 2.065.856

Situação: virou emenda constitucional

5) MP 1076/21- Institui Benefício Extraordinário para famílias beneficiárias do Programa Auxílio Brasil

Interações: 1.710.250

Situação: virou lei

6) PEC 32/22 - PEC da Transição

Interações: 878.453

Situação: virou emenda constitucional

7) PL 1559/21 - Estabelece piso salarial para farmacêuticos

Interações: 861.884

Situação: está na Comissão de Trabalho

8) PL 442/91 - Exploração de jogos e apostas em todo o País

Interações: 615.415

Situação: aprovado na Câmara e enviado ao Senado

9) PL 2858/22 - Concede anistia para crimes políticos e eleitorais praticados a partir do dia 30 de outubro, término do segundo turno eleitoral

Interações: 594.727

Situação: está na Comissão de Constituição e Justiça

10) PL 718/22 - Determina a cobrança do Imposto de Importação em todas as compras eletrônicas

Interações: 543.491

Situação: Arquivado pelo autor

O relatório executivo de participação popular analisa as proposições com maior número de visualizações e interações nos diversos canais de comunicação e relacionamento da Câmara dos Deputados e apresenta um panorama do que está sendo dito pelas pessoas.

Por trabalhar com um universo bem definido (apenas canais da Casa), seus dados não representam a população brasileira, focando somente os pontos de vista dos cidadãos que entraram em contato direto com a Câmara.

O relatório é produzido pela Coordenação de Relacionamento, Inteligência e Participação da Diretoria Executiva de Comunicação e Mídias Digitais.

A maioria das interações se dá pelos chat do YouTube e pelas enquetes dos projetos no site da Câmara. Além desses canais, há as demais redes sociais institucionais, as notícias do portal da Câmara na internet e os contatos via Central de Comunicação Interativa (Disque-Câmara e Fale Conosco).

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ÉPOCA NEGÓCIOS

Como funciona a vacina universal contra gripe, que pode estar disponível em dois anos

O resultado de um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, animou a comunidade científica, que há anos conduz pesquisas para tentar desenhar uma vacina universal contra a gripe. Agora, ela pode estar mais próxima.

Em um artigo publicado na revista Science em novembro, o grupo de cientistas afirma que desenvolveu uma vacina de RNA mensageiro (mRNA) capaz de codificar antígenos de todos os 20 subtipos conhecidos de vírus influenza A e linhagens de vírus influenza B - causador da gripe. A previsão dos pesquisadores é que o imunizante esteja disponível para o público em dois anos.

"Esta vacina multivalente provocou altos níveis de anticorpos de reação cruzada", afirmaram os pesquisadores. A reação cruzada acontece quando uma vacina é desenhada para proteger contra um certo tipo de variante, mas também protege contra outras. "Os animais testados reagiram a todos os 20 antígenos codificados. Nossos estudos indicam que as vacinas de mRNA podem induzir simultaneamente anticorpos contra múltiplos antígenos", afirmaram os cientistas.

As vacinas atuais contra a gripe são sazonais, o que significa que oferecem proteção apenas contra cepas circulantes recentes, e não contra novas cepas que poderiam causar uma pandemia. A cada ano, as cepas circulantes variam devido à alta capacidade de mutação do vírus, o que torna necessária a produção de novas versões da vacina.

Anualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulga as linhagens que estão circulando no mundo. Elas são importadas de laboratórios-referência da OMS e, então, usadas para a produção do imunizante sazonal - aquele que a população toma todos os anos.

"O influenza é um vírus muito único em algumas características, e uma delas é essa variedade de subtipos, que são os nomes que conhecemos como H1N1, H3N2. Esses números se referem a estruturas que ele tem na parte de fora. Quando se tem uma variação muito grande nesse tipo de estrutura, fica muito difícil atacar todos de uma vez. A dificuldade molecular do vírus sempre foi um desafio", explica Laura Marise, farmacêutica bioquímica e doutora em Biocências e Biotecnologia.

A tecnologia de mRNA permite que se tenha uma plataforma "plug and play", isto é, o laboratório só tira ou acrescenta pedaços de proteína para criar a vacina desejada a fim de atacar determinado vírus. No caso do imunizante desenvolvido pelos pesquisadores da Pensilvânia, foram misturados 2,5 microgramas de cada um dos 20 subtipos de vírus influenza.

"A tecnologia de mRNA já era conhecida antes da pandemia, mas não factível. A covid-19 alavancou os estudos e tirou do papel os investimentos que faltavam para a gente construir uma vacina que fosse efetiva", observa Laura.

"Um dos grandes avanços do século 21 até agora foram as vacinas de mRNA, porque a gente consegue reduzir o tempo e o custo de produção de vacinas numa taxa altíssima. A velocidade com que a gente vai conseguir desenvolver novas vacinas a partir de agora, e para diversas doenças, é muito alta", acrescenta a biomédica.

Uma vacina universal no Brasil, por exemplo, teria potencial de reduzir custos com armazenamento, logística e com a divulgação das campanhas de vacinação. Ainda é cedo, no entanto, para dizer se a vacina universal contra a gripe vai proteger durante um longo período ou se ainda terá que ser reforçada ano a ano.

"Minha aposta é que ela pode ser semelhante a uma vacina contra o tétano, cujo reforço é feito a cada dez anos. Mas isso só será mostrado depois dos ensaios clínicos [testes em humanos], porque é preciso entender se os anticorpos que essa vacina vai produzir serão duradouros", observa Laura.

Butantan vai iniciar testes de vacina tetravalente

Atualmente, no Brasil, estão disponíveis a vacina contra a gripe trivalente e a tetravalente, mas esta última apenas na rede privada. O Instituto Butantan vem trabalhando no desenvolvimento de uma tetravalente para ser distribuída pelo SUS - nesta semana, a Anvisa autorizou o início da fase 3 do ensaio clínico dessa vacina tetravalente.

O imunizante quadrivalente do Butantan é composto por duas cepas de vírus influenza tipo A (H1N1 e H3N2) e outras duas cepas do vírus tipo B (linhagens Victoria e Yamagata). Segundo o instituto, diversos estudos da literatura médica mostram que a inclusão de mais uma cepa B aumenta a efetividade da vacina.

Por manter os mesmos processos fabris de produção da trivalente, atual vacina do Butantan, tendo apenas um acréscimo de monovalente da cepa B, a Influenza tetravalente entrou direto para a fase 3 de ensaios clínicos. Nessa etapa, os cientistas vão avaliar a capacidade do imunizante de induzir produção de anticorpos nos voluntários.

O protocolo da fase 3 já havia sido desenhado em 2019, mas a pandemia prejudicou o recrutamento de voluntários, e apenas o grupo de adultos de 18 a 59 anos atingiu o número necessário (5 mil participantes). Nesta reabertura da fase 3, o objetivo é incluir no estudo um total de 977 crianças entre 3 e 8 anos, 510 adolescentes de 9 a 17 anos e 749 idosos acima de 60 anos.

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MONITOR MERCANTIL

Hapvida precisa reduzir sinistralidade, mas tem liquidez financeira, diz Fitch

A Fitch Ratings atribuiu o Rating Nacional de Longo Prazo 'AAA (bra)' à proposta de quarta emissão de debêntures quirografárias da operadora de saúde Hapvida Participações e Investimentos S.A., com garantia financeira da sua subsidiária integral Ultra Som Serviços Médicos S.A. A emissão, no valor de até R$750 milhões, possui vencimento final em 2024. Os recursos deverão ser utilizados para reperfilamento de dívida e reforço de caixa. A Fitch classifica a Hapvida com o Rating Nacional de Longo Prazo 'AAA (bra)'/perspectiva estável.

O relatório da Agência de Classificação de Risco, divulgado nesta quinta-feira, destacou que o rating da Hapvida reflete o seu destacado posicionamento de mercado na fragmentada e competitiva indústria de saúde suplementar no Brasil. A classificação também incorpora a dinâmica do setor de saúde menos resiliente do que a inicialmente esperada, ainda que, a longo prazo, os fundamentos de demanda se mostrem fortes. "A liquidez e a flexibilidade financeira da Hapvida são fortes e representam importantes fatores de suporte ao rating".

A agência disse que a Hapvida precisa reduzir os índices de sinistralidade, fortalecer as margens operacionais e reduzir a alavancagem líquida para patamares abaixo de 2,5 vezes. A análise incorpora um aumento da alavancagem líquida em 2022, incompatível com o rating, e redução deste índice para cerca de 3,0 vezes em 2023 e para menos de 2,5 vezes em 2024. Frustações nas expectativas de redução da alavancagem devem resultar em ações de rating negativas. Um ambiente de negócios mais favorável, com índices de inflação menores e recomposição de preço nos contratos, combinado a um volume mais baixo de investimentos, serão fatores-chave para o sucesso da Hapvida na redução da alavancagem. A Fitch também não vê espaço, a curto prazo, para novas aquisições financiadas por dívida, sem que as classificações sejam fortemente pressionadas.

A perspectiva estável contempla a expectativa de redução da sinistralidade em 2023, resultando no fortalecimento da geração de caixa e das margens operacionais da Hapvida, bem como a retomada de fluxos de caixa livre (FCFs) positivos.

Espaço Publicitário

A combinação de negócios entre a Hapvida e a Notre Dame Intermédica Participações S.A. (NDI), concluída em fevereiro de 2022, resultou na liderança do grupo na pulverizada e competitiva indústria de saúde suplementar brasileira, com participação de mercado estimada em 17% em número de beneficiários. Este movimento levou à maior diversificação do portfólio de produtos do grupo, além da ampliação de sua cobertura geográfica. Ao final de dezembro de 2022, a companhia possuía 16,1 milhões de beneficiários, sendo 9,1 milhões vinculados a planos de saúde e 6,9 milhões, a planos odontológicos, além de uma rede assistencial própria, composta por 87 hospitais (com 5,3 mil leitos) e 328 clínicas, 271 laboratórios de diagnóstico por imagem e análises clínicas e 75 unidades de pronto-atendimento distribuídas por 19 dos 26 estados brasileiros, mais o Distrito Federal.

Fluxo de caixa

A Hapvida gerou fluxo de caixa das operações (CFFO) negativo em 2022, em torno de R$ 800 milhões, pressionado pelas maiores despesas com juros e pelo impacto no capital de giro decorrente da combinação de negócios com a NDI. Em 2023, o CFFO deve ficar em R$ 1,6 bilhão, refletindo o aumento esperado no Ebitda. O fortalecimento da geração de caixa e a flexibilidade da Hapvida em reduzir seus investimentos serão importantes para reverter o FCF para positivo em 2023, para R$ 1,3 bilhão, após geração negativa em R$ 2,6 bilhões em 2022. Para 2024, o CFFO deve ser de R$ 3,0 bilhões e o FCF, de R$ 2,7 bilhões. O cenário-base considera investimentos médios anuais de R$ 350 milhões e ausência de distribuição de dividendos no biênio 2023-2024. A Hapvida deve desembolsar aproximadamente R$ 770 milhões em 2023, referentes a aquisições já anunciadas.

Segundo a Fitch, o rating da Hapvida incorpora os fortes fundamentos de demanda do setor de saúde, apoiados no envelhecimento da população e no potencial de expansão da taxa de cobertura dos planos em relação à população, atualmente em 25%. Os avanços em diagnósticos e tratamentos de doenças e a carência de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) também sustentam a procura pelo setor privado. Os movimentos de consolidação e verticalização no setor devem aumentar a concorrência a médio prazo. Diante deste cenário, as operadoras de saúde precisam manter o controle de seus índices de sinistralidade, a fim de preservar sua rentabilidade, considerando, ainda, um ambiente de regulação de preços e coberturas de serviços pela Agência Nacional de Saúde (ANS).

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PORTAL G1

Operação cumpre mandados em investigação de desvio de dinheiro em OS que administrava hospitais de Goiás durante a pandemia

Sócios de empresas privadas contratadas pela OS repassavam parte dos valores recebidos para outras empresas, de fachada, comandadas pelos gestores organização. Seis mandados são cumpridos.

Por Thauany Melo, g1 Goiás

A Polícia Federal cumpre seis mandados de busca e apreesão em Goiânia. A operação tem o objetivo de investigar o desvio de recursos públicos na área da saúde por parte de uma organização social (OS), durante a pandemia de Covid-19, em 2020.

Conforme a investigação da PF, os sócios de empresas privadas contratadas para prestarem serviços para a OS que gere hospitais públicos repassavam parte dos valores recebidos de volta para outras empresas, de fachada, comandadas pelos gestores da OS. Foram apreendidos veículos e documentos.

g1 questionou a Polícia Federal sobre os alvos e não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. Como os nomes não foram divulgados, não foi possível localizar a defesa.

Os investigados poderão responder pelos crimes de peculato, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa, segundo a PF. As penas máximas, somadas, podem atingir 37 anos de reclusão.

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AGÊNCIA ESTADO

Anvisa aprova 1ª vacina contra a dengue de uso amplo; eficácia é de 80%

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta quinta-feira (2/3), uma nova vacina contra a dengue, desenvolvida pela farmacêutica japonesa Takeda. O produto, batizado de Qdenga, teve eficácia de 80% nos estudos clínicos.

Ele é o segundo imunizante contra a doença a receber registro no Brasil, mas o primeiro que poderá realmente mudar o curso das epidemias da doença. Isso porque a primeira vacina, do laboratório Sanofi Pasteur e aprovada no País em 2015, foi descartada pela maioria dos países como estratégia de prevenção por ser recomendada apenas para quem já contraiu algum sorotipo da dengue, já que aumenta a ocorrência da forma grave da doença em pessoas nunca antes infectadas pelo vírus. Ela ainda tem pode ser aplicada somente para o público de 9 a 45 anos.

Já o imunizante da farmacêutica japonesa é indicado para pessoas de 4 a 60 anos, com ou sem histórico prévio de dengue. O produto protege contra os quatro sorotipos do vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.

De acordo com a Anvisa, a vacina será administrada via subcutânea em esquema de duas doses, com intervalo de três meses entre as aplicações. "A demonstração da eficácia da vacina Qdenga tem suporte principalmente nos resultados de um estudo de larga escala, de fase 3, randomizado e controlado por placebo, conduzido em países endêmicos para dengue com o objetivo de avaliar a eficácia, segurança e imunogenicidade da vacina", justificou ao órgão ao anunciar a aprovação.

Segundo a Takeda, os estudos clínicos da Qdenga tiveram 28 mil participantes, com acompanhamento de mais de quatro anos dos voluntários da última fase do estudo. Além da eficácia geral de 80,2%, o imunizante alcançou 90,4% de proteção contra hospitalizações pela doença 18 meses após a vacinação.

A Qdenga é feita com vírus vivo atenuado do sorotipo 2 do vírus da dengue. A Anvisa destacou que o imunizante recebeu recomendação positiva da agência sanitária europeia (EMA) e teve sua comercialização aprovada no continente em dezembro do ano passado. Ainda de acordo com a Anvisa, a análise técnica que embasou a aprovação da vacina contou com um painel de discussão com especialistas no tema, realizado em janeiro.

Registro
A Takeda entrou com pedido de registro na Anvisa em 2021. O processo, segundo a agência, foi demorado porque foram solicitados dados complementares. A vacina, diz a agência, "segue sujeita ao monitoramento de eventos adversos por meio de ações de farmacovigilância sob a responsabilidade da empresa". Ainda não há previsão de quando a vacina estará disponível no mercado. Antes, ela precisará passar pelo processo de precificação junto à Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que costuma durar meses.

Também não é possível dizer ainda se o produto será incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) para ser oferecido em campanhas nacionais de vacinação. Para isso, uma avaliação de custo-efetividade é feita pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), instância vinculada ao Ministério da Saúde.

Dessa forma, é improvável que o produto esteja disponível já para a atual temporada de alta de casos, que tradicionalmente vai de fevereiro a abril. De acordo com dados mais recentes do ministério, houve aumento de 46% no número de casos de dengue neste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.

A vacina do Instituto Butantan, única a entrar na fase final de estudos além dos produtos da Sanofi e Takeda, registrou 79,6% de eficácia nos testes de fase 3, conforme dados preliminares, mas só deverá ter sua pesquisa concluída e resultados finais conhecidos em 2024. 

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CORREIO BRAZILIENSE

Aumento da obesidade preocupa especialistas

A Federação Mundial da Obesidade (FMO) divulgou ontem (2) o Atlas 2023, um estudo com novos números da obesidade no mundo - e eles assustam. Segundo a entidade, mais da metade da população mundial (51%) estará com sobrepeso ou obesa até 2035, caso nenhuma medida mais efetiva seja tomada para conter esse quadro. Serão mais de 4 bilhões de pessoas fora do peso em um intervalo de 12 anos.

Atualmente, uma a cada sete pessoas tem obesidade no mundo. A projeção para 2035 é de um para quatro, ou seja, quase 2 bilhões de pessoas terão índice de massa corporal (IMC) superior a 30.

Ainda segundo o relatório, publicado dois dias antes do Dia Mundial da Obesidade (4), as crianças e os adolescentes são a maior preocupação das autoridades de saúde, especialmente em países com populações de baixa renda, em que as condições sanitárias e nutricionais não cumprem os parâmetros de segurança alimentar auditados pela Conferência Mundial da Alimentação (CMA). Em 2035, a previsão é de que 400 milhões de crianças tenham obesidade no planeta. No Brasil, o crescimento seria de 4,4% por ano, índice considerado muito alto pela FMO.

A obesidade é uma doença grave, com várias complicações associadas como hipertensão, diabetes, doença cardiovascular, além do risco de alguns tipos de tumores (câncer) e morte precoce.

Os dados também afetam a população adulta. Atualmente, mais de 40% dos adultos brasileiros estão obesos, o que já é um nível considerado alto. O crescimento projetado de 2020 a 2035 é de 2,8% por ano, com um impacto econômico no setor de saúde que deve ultrapassar os US$ 19 milhões de dólares em 2035.

Nos últimos anos, o Brasil também assistiu à queda do número de cirurgias bariátricas. Entre 2017 e 2022, o Brasil realizou 315.720 mil cirurgias bariátricas, sendo 252.929 cirurgias, segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS, até 2021) , via planos de saúde; 16.000 feitas de forma particular; e 46.791 (incluindo

2022) procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Antônio Carlos Valezi, o número, no entanto, não representa 1% dos pacientes portadores de obesidade que possuem indicação cirúrgica para o tratamento da doença no país.

Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), reforça as estratégias individuais para conter esse quadro preocupante: hábitos de vida saudáveis, com alimentação balanceada e prática regular de atividade física. No entanto, ele atribui às autoridades públicas a propagação de ações que incentivem a prática diária de exercícios e o consumo saudável de alimentos, assim como a taxação de produtos associados ao maior risco de obesidade, como, por exemplo, os ultraprocessados, o que já ocorre em países desenvolvidos.

Caso contrário, se nada for feito, o que seria apenas uma projeção para a próxima década, se transformará em realidade.

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O GLOBO

Saúde prepara campanha de vacinação contra monkeypox após risco de perder doses

O Ministério da Saúde deve iniciar, no dia 13 de março, uma campanha de vacinação contra monkeypox (também chamada de mpox) em todo o país. A pasta corre contra o tempo para não perder cerca de 50 mil doses do imunizante Jynneos, com uso autorizado pela Anvisa até agosto deste ano. A ação foi acertada em reunião da Secretaria de Vigilância em Saúde durante a tarde dessa quinta-feira.

- O Ministério da Saúde iniciará a distribuição aos estados ao longo da próxima semana. A depender da organização de cada estado, acredita-se que a vacinação seja iniciada em 13 de março - afirmou a SVSA ao GLOBO.

Segundo a pasta, o esquema vacinal será de duas doses, com intervalo de quatro semanas entre elas, para o seguinte público: pessoas com HIV/AIDS; homens cisgêneros (que se identificam com o sexo biológico), travestis e mulheres transexuais com idade igual ou superior a 18 anos; e pessoas com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses.

Além do grupo citado, a imunização também estará disponível para casos de pós-exposição ao vírus - quando a pessoa tem contato íntimo com um paciente infectado com mpox. Conforme o ministério, "serão enviadas doses suficientes para atender às cerca de 16 mil pessoas desse grupo, com duas doses cada".

As doses desembarcaram no país em outubro do ano passado, na gestão do ex-ministro Marcelo Queiroga, mas não chegaram a ser utilizadas. O prazo estipulado pela Anvisa para uso se encerraria em 26 de fevereiro, mas a agência reguladora o estendeu por mais seis meses após pedido do ministério. O imunizante também é usado para prevenção da doença nos Estados Unidos e na Europa.

São mais de 10 mil registros de monkeypox no Brasil e mais de 2 mil suspeitos, segundo o último informe do Ministério da Saúde. No ano passado, 15 brasileiros morreram pela doença, sendo 5 no Rio de Janeiro. O Brasil apresenta estabilidade no aparecimento de novos casos desde dezembro, com queda a partir de agosto de 2022. Ainda assim, ao prorrogar a autorização do imunizante, a diretora da Anvisa Meiruze Freitas lembrou que a OMS mantém o status de emergência de saúde internacional, de julho do ano passado.

Além disso, para a diretora, "aplicar a vacina pode beneficiar brasileiros, especialmente os que se encontram em situação de maior vulnerabilidade de saúde". Atualmente não existem medicamentos registrados no Brasil para o tratamento da doença.

Os sintomas aparecem, geralmente, de seis a 21 dias após a exposição ao vírus, explica o médico membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, Antônio Bandeira. Depois desse período, a pessoa infectada pode apresentar mal-estar e febre, e de dois a três dias, começam as erupções na pele. "As erupções vão se formar como vesículas semelhantes à catapora, que com o tempo formam pus, escurecem e descamam", afirma.

- Os riscos são relacionados ao local das erupções. Por exemplo, se ela está próxima ao olho, pode gerar uma lesão na córnea. Pacientes imunocomprometidos podem ter um quadro agravado. - esclarece.

Conforme o infectologista, a prevenção é evitar o contato com pessoas contaminadas. Como a mpox tem alta transmissão por via sexual, é importante que o/a parceiro/a não apresente lesões na pele.

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JOTA INFO

Inovação social farmacêutica para doenças raras

No dia 28 de fevereiro diversas atividades ao redor do mundo foram realizadas para lembrar o Dia Mundial das Doenças Raras. O conceito de doenças raras varia de país para país. No Brasil, são consideradas doenças raras aquelas definidas pelo número reduzido de pessoas afetadas com relação à totalidade da população. Para ser considerada rara, a doença deve ter a proporção de 65 indivíduos a cada 100 mil pessoas.Â

Atualmente, há em torno de 7.000 doenças raras descritas, sendo 80% de origem genética e 20% de causas infecciosas, virais ou degenerativas. Estima-se que em torno de 13 milhões de brasileiros vivam com essas enfermidades, e que para 95% das doenças raras descritas ainda não há tratamento, restando somente os cuidados paliativos e serviços de reabilitação.Â

As dificuldades que se apresentam para uma pessoa com doença rara são enormes. Para chegar ao diagnóstico, um paciente chega a consultar até dez médicos diferentes, e a maioria é diagnosticada tardiamente. Aproximadamente 75% das doenças raras ocorrem em crianças e jovens.Â

Uma vez diagnosticada a doença, para muitos pacientes em todo o mundo, medicamentos e tratamentos médicos não estão disponíveis ou são inacessíveis, seja porque os pacientes vêm de contextos econômicos pobres - e não são vistos como um mercado viável pela indústria farmacêutica -, seja porque os pacientes com doenças raras não representam uma base de consumidores grande o suficiente para justificar os significativos investimentos em pesquisa da indústria farmacêutica necessários para o desenvolvimento de novos tratamentos.Â

No domínio das doenças raras, têm sido implementadas políticas específicas em diferentes países que têm resultado em algum crescimento do número de medicamentos para estas doenças. No entanto, muitas condições ainda carecem de tratamentos e, quando estão disponíveis, geralmente são muito caros e, portanto, inacessíveis e insustentáveis. Nos últimos anos, surgiram formas de Inovação Social Farmacêutica (Social Pharmaceutical Innovation ou SPIN), que são novos modelos de pesquisa, desenvolvimento, produção e acesso que buscam abordar as desigualdades e vulnerabilidades em saúde relacionadas a doenças raras e outras necessidades médicas não atendidas.Â

As inovações sociais farmacêuticas não são direcionadas exclusivamente para fins lucrativos e são caracterizadas por colaborações entre empresas privadas, instituições públicas e diversos grupos interessados (incluindo organizações de pacientes). Pesquisa desenvolvida por equipes de pesquisadores de Canadá, Brasil, França e Holanda, que tenho a satisfação de coordenar no Brasil, vem mapeando e divulgando casos de inovação social farmacêutica nesses países.Â

No Brasil, a pesquisa conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e visa fornecer uma compreensão detalhada dos contextos médicos, sociais, econômicos, políticos e regulatórios que moldam essas iniciativas SPIN.Â

Considera-se inovação social as experiências que tem como objetivos oferecer uma nova abordagem para lidar com vulnerabilidades sociais ou ambientais, como pobreza, desigualdades na saúde, efeitos indesejáveis das mudanças climáticas etc., que afetam pessoas com doenças raras (pequenas populações de pacientes) e com doenças negligenciadas (doenças prevalentes em países de renda média e baixa).

Para ambas as categorias de doenças, o mercado está falhando: é incapaz de atender as populações de pacientes em questão. A inovação social não tem como objetivo principal o lucro; ao contrário, visa gerar impactos socioambientais positivos ou prevenir impactos negativos. Procura equilibrar os interesses públicos e privados e melhorar e equilibrar as responsabilidades dos diversos atores envolvidos (ou seja, inovação responsável).

A inovação social usualmente estabelece parcerias entre empresas privadas, instituições públicas e diversos grupos interessados (ou seja, inovação colaborativa), devendo necessariamente incluir os usuários no processo de inovação. Na área da saúde, a categoria de usuários é bastante ampla, pois inclui pacientes (que consomem o medicamento), médicos especialistas (que prescrevem e supervisionam o uso), farmacêuticos (que distribuem) e seguradoras de saúde (que pagam). Essas categorias de usuários podem estar envolvidas como indivíduos, mas também representadas por organizações (por exemplo, grupos de defesa de pacientes) ou até mesmo empreendedores sociais (por exemplo, um farmacêutico ou um grupo de profissionais que se reúnem para fabricar medicamentos a preços baixos).

Medicamentos são bens peculiares. Antes de chegarem ao mercado, os medicamentos são testados quanto à segurança para uso humano e passam por ensaios clínicos em larga escala e em vários locais para uma indicação, colocados sob jurisdição nacional - por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil ou a Health Canada no Canadá - ou supranacional de agências reguladoras - como a Agência Europeia de Medicamentos (EMA).Â

Uma vez confirmada sua segurança e eficácia clínica, os medicamentos passam por avaliação econômica, associada à sua efetividade, sendo esta a base para as negociações de preços entre as empresas farmacêuticas e as autoridades relevantes no que diz respeito aos medicamentos que serão cobertos pelos sistemas públicos ou seguros privados de saúde. Este processo visa assegurar o custo-efetividade dos medicamentos, e estabelece um modelo linear sequencial de inovação farmacêutica: na primeira etapa, o valor clínico do medicamento é testado; na etapa seguinte, avalia-se seu valor econômico. Além disso, a base epistemológica da tomada de decisão é bastante convencional e exclusiva de determinados atores, nomeadamente empresas e agências reguladoras.

Esse enquadramento regulatório e institucional tem seus próprios limites quando se trata do desenvolvimento de medicamentos para doenças raras. Pequenas populações de pacientes em doenças raras impedem grandes ensaios clínicos, e estudos randomizados controlados por placebo não são adequados para medicamentos pediátricos ou medicamentos para a fase terminal de doenças como cânceres, HIV/Aids ou outras doenças degenerativas. Para outras condições, o tamanho ou o status socioeconômico das populações de pacientes não representam um retorno suficiente do investimento para a indústria farmacêutica e/ou biotecnológica.

Para enfrentar as limitações do modelo sequencial e linear de inovação farmacêutica e as falhas do mercado de medicamentos, políticas específicas foram desenhadas em diferentes regiões do mundo e para diferentes condições. No Brasil, esses esforços se iniciam apenas em meados da década de 2010, em momento politicamente instável do país, razão pela qual ainda não se fizeram sentir pelos doentes raros.

Dependendo das legislações nacionais ou supranacionais, essas políticas incluem flexibilização tecnológica, incentivos econômicos específicos e assistência científica a empresas que queiram desenvolver tais medicamentos. No entanto, componentes significativos do setor farmacêutico e de biotecnologia mudaram suas estratégias de negócios e inovação do desenvolvimento de medicamentos de grande sucesso para "busters de nicho" como parte de um movimento mais amplo em direção à medicina personalizada (Collier, 2011). Esta mudança resultou em medicamentos cujos preços são excessivamente elevados, muitas vezes na ordem das centenas de milhares ou até milhões de dólares/euros por doente por ano (Côté & Keating, 2012). Esses preços não são apenas inacessíveis para pacientes individuais, mas também são uma ameaça para a sustentabilidade dos sistemas públicos de saúde.Â

É aqui que entram em cena abordagens socialmente inovadoras para o desenvolvimento e cobertura de drogas. Essas abordagens, que podem ser denominadas de "inovação farmacêutica social", visam articular modelos socialmente robustos e economicamente viáveis de P&D de produtos farmacêuticos, caracterizados por novas parcerias nos setores público, sem fins lucrativos e privado. No Brasil, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria 199/2014, instituiu a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, aprovou as Diretrizes para Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e instituiu incentivos financeiros de custeio. No entanto, até o presente momento, esta norma ainda não surtiu os efeitos esperados.

Nos próximos dias 9 e 10 de março será realizada a Conferência Internacional sobre Inovação Social Farmacêutica para Doenças Raras, na Universidade de Utrecht (Holanda), onde os resultados com diversas experiências serão divulgados publicamente. O evento é gratuito e poderá ser acompanhado online. O Brasil, por meio da Universidade de São Paulo e da Fundação Oswaldo Cruz, estará presente como organizador do evento, colocando-se como um ator importante para que essa agenda se desenvolva e considere, sobretudo, as necessidades dos doentes raros que habitam o Sul Global. Estarão presentes para falar de experiências brasileiras representantes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), da sociedade civil e do governo.

Espera-se, com essa iniciativa, encontrar novos e inovadores caminhos para a atenção à saúde integral das pessoas com doenças raras, visando a plena realização do direito à saúde, da dignidade humana e da justiça social para os raros.

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ISTOÉ

Do cinema aos hospitais

Pesquisadores descobrem que os equipamentos tecnológicos empregados na produção dos filmes da franquia Avatar são úteis na saúde. Com eles, é possível reduzir o tempo e aumentar a precisão do diagnóstico

Fernando Lavieri

A ciência foi retratada no cinema em inúmeros filmes. Mas dessa vez acontece o inverso. Pesquisadores se valeram de equipamentos utilizados no set para aplicações em saúde. Um grupo de cientistas se juntou no Imperial College e na Universy College London (UCL), na Inglaterra, para descobrir formas de melhor detectar os movimentos de pessoas acometidas por graves e raras doenças. E a base utilizada para o trabalho foram dispositivos tecnológicos utilizados no filme Avatar, mas no primeiro, o de 2009. Para que os longas-metragens pudessem atingir os níveis impressionantes de realidade que alcançaram, já que se trata de fabulosa ficção científica, o diretor James Cameron usou trajes de captura de movimentos capazes de reconhecer minúsculos detalhes da movimentação em todas as partes dos corpos dos atores enquanto estivessem em cena. Tal sistema permitiu adequar, por meio de computação, a imagem humana à dos personagens extraterrestres. Os instrumentos cinematográficos se mostram também eficientes para perceber alterações motoras causadas por enfermidades.

O aproveitamento dos dispositivos de Avatar se transformou em duas pesquisas científicas de utilização de Inteligência Artificial publicadas recentemente na revista Nature. Os estudos vieram à tona justamente no momento em que o segundo filme da franquia, Avatar: O Caminho da Água, está batendo recordes de bilheteria. Quando o assunto é doenças raras, muitos casos se referem a algo que é degenerativo e que não tem cura. Ou seja, que compromete aos poucos as funções vitais do organismo. São patologias que, ao evoluírem, levam a pessoa a uma situação de incapacidade, de tal forma que ela não consegue desenvolver as tarefas cotidianas mais simples como, por exemplo, tomar um copo d'água. Desta vez, duas doenças foram observadas com profundidade: Ataxia Friedreich (FA) e Distrofia Muscular de Duchenne (DMD). A primeira enfermidade causa a perda de reflexos, diminuição da sensibilidade profunda e deforma a coluna vertebral. A outra, com o passar do tempo, faz a pessoa ter fraqueza muscular, dilata o coração e provoca dores nas articulações. "Estou completamente impressionada com os resultados", afirmou à imprensa inglesa a médica Valeria Ricotti. Ela refere-se ao impacto na antecipação de diagnósticos e na criação de novos medicamentos.

RESPOSTA RÁPIDA

Para que o médico consiga descobrir qual é a doença, em qual nível ela se encontra no organismo e o seu inevitável avanço, tudo isso com precisão, o especialista compara a movimentação do paciente com padrões clínicos de mobilidade, mas tal análise pode levar muito tempo, às vezes anos. E há mais um problema. Por mais experiente e dedicado que o médico possa ser, existe uma enorme diferença entre a visão humana e a da máquina. No estudo a respeito de Ataxia Friedreich, que atinge cerca de 50 mil pessoas em todo o mundo, percebeuse que, com a utilização do trajes e o auxílio da Inteligência Artifi cial, as perguntas essenciais sobre a condição do paciente poderiam ser descobertas dentro do prazo de 12 meses. Nos testes feitos em portadores de Distrofi a Muscular de Duchenne, que acomete 20 mil crianças por ano, o diagnóstico completo se deu em seis meses. Reduzir o tempo de investigação é fundamental, para propiciar melhor assistência às pessoas.

"Nossa abordagem detecta movimentos muito sutis. O equipamento vai modificar a forma como analisamos e monitoramos os pacientes", pontuou o pesquisador Aldo Faisal, do Imperial College. "Na verdade, todas as ações que se referem às doenças raras devem mudar", entende Primo Paganini, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da USP. Ele explica que os remédios contra patologias incomuns são caríssimos, porque a indústria farmacêutica desenvolve tais medicações de acordo com a quantidade de casos, que não é exata. "A partir do momento em que tivermos, com precisão, o número de pessoas que precisam ser tratadas, a produção de drogas também será mais correta e menos custosa", diz ele.

A invenção do sistema de captação de movimento vai ainda mais longe. Segundo Paganini, tem ação em diversas patologias de ordem psiquiátrica, em problemas cardíacos, nos pulmões e outros. No caso das doenças raras, não há possibilidade de reversão, mas no tratamento de pessoas com Parkinson, por exemplo, a antecipação do diagnóstico pode garantir mais qualidade e tempo de vida. Quando o paciente tem arritmia cardíaca, se os médicos conseguirem descobrir com antecedência, o profissional pode corrigir os batimentos com medicação e evitar uma parada do coração ou um Acidente Vascular Cerebral (AVC). "Com o equipamento podemos melhorar a vida das pessoas e, em alguns casos, evitar que morram", conclui o psiquiatra.

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"A partir do momento em que tivermos precisão sobre a quantidade de pessoas que têm doenças raras, a produção de medicamentos será menos custosa"

Primo Paganini, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da USP

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ESTADÃO.COM

Artigo - Por que as mulheres ainda recebem menos que os homens na medicina?

A recém-publicada pesquisa Demografia Médica no Brasil 2023, que é produzida pela cooperação entre a Associação Médica Brasileira e a Faculdade de Medicina da USP, revelou aspectos significativos do mercado de trabalho dos profissionais de medicina.

Primeiramente, foi identificada a crescente tendência da "feminização" da profissão médica. Apesar de serem a maioria de ingressantes nas faculdades de medicina, desde a primeira pesquisa desse tipo realizada, em 2009, as mulheres sempre foram minoria dentre os profissionais recém-formados.

Contudo, essa diferença entre os gêneros relativamente à quantidade de formados diminuiu a cada ano. Dentre os profissionais formados em 2023, 49,3% são mulheres. A projeção estatística é no sentido de que já no próximo ano as mulheres sejam maioria, representando 50,2% dos graduados em medicina.

Ocorre que o aumento na quantidade de mulheres formadas não eliminou uma outra tendência que é reiteradamente observada pelo estudo ao longo dos anos: a diferença de remuneração entre os gêneros.

Segundo o estudo, a renda média declarada pelos homens foi de R$ 36.421,00, enquanto a das mulheres foi de R$ 23.205,00, ou seja, cerca de 64% do rendimento de seus pares masculinos.

Essa diferença de remuneração está ligada a vários fatores, dentre estes a identificação de uma maioria de médicas trabalhando na condição de empregadas assalariadas, enquanto médicos são mais propensos a possuírem consultórios médicos.

Bem assim, no Brasil é comum a coexistência de múltiplos vínculos de trabalho, isto é, o mesmo profissional atendendo paralelamente no serviço público e privado, e em diferentes estabelecimentos, sendo maioria a quantidade de médicos com mais de uma fonte de renda, em comparação com as médicas.

Outro fator é uma maior concentração de mulheres em especialidades associadas à menores remunerações e maior necessidade de dedicação com proximidade contínua aos pacientes, como geriatria, ginecologia e obstetrícia, pediatria, medicina de família e comunidade. É interessante notar o quanto persiste no imaginário coletivo a ideia de que o cuidado familiar seja naturalmente feminino.

Por sua vez, os homens são a maioria em especialidades que ostentam maiores rendimentos, como cirurgia geral, cardiologia, ortopedia/traumatologia, medicina esportiva, chegando a alcançar a proporção de 88,8% dos profissionais especializados em cirurgia cardiovascular.

Há ainda uma diferença marcante de renda ao longo da carreira profissional. A maior renda entre homens se observa em médicos de todas as faixas etárias, entretanto, a proporção de rendimento das mulheres tende a cair ainda mais na faixa de idade por volta dos 30 até os 40 anos.

A pesquisa revelou que a diferença da renda das mulheres em relação aos homens somente começa a diminuir nas faixas etárias mais avançadas, a partir dos 50 anos de idade.

É possível inferir que a capacidade de ganhos das médicas seja impactada na faixa dos 30 até os 40 anos de idade por ser esta idade comumente associada à maternidade e atenção aos filhos na primeira infância.

Com efeito, é bastante usual que haja disparidade no tempo gasto com o cuidado familiar. Isto é, a dedicação à maternidade ocasiona o afastamento da mulher de suas atividades profissionais em maior grau do que os homens, em relação à paternidade e aos cuidados com filhos na primeira infância.

O que no caso das médicas pode significar deixar de atuar integralmente, ou ao menos para uma parte de seus vínculos de trabalho, ou ainda, em se tratando de profissionais autônomas, passar a adotar um menor expediente e menor quantidade de pacientes por dia.

Nesse contexto, é importante refletirmos a respeito da valorização justa do trabalho e, em especial, do trabalho de cuidar. Aqui estamos tratando do ato de cuidar da própria família, o que pode ensejar o afastamento das atividades de trabalho. Mas também consideramos o gesto de cuidar no sentido de dedicar-se à especialidades médicas que se voltam ao cuidado familiar e que são inferiormente remuneradas, apesar de tão cruciais quanto às demais especialidades mais bem pagas.

Talvez seja o momento de coletivamente ponderar que a desvalorização do trabalho de cuidar gera desigualdade entre os gêneros, e isso não é mais aceitável.

A desigualdade não é justa com os profissionais, com as famílias, e em especial com as gerações futuras que poderiam ser beneficiadas com a promoção da igualdade no mercado de trabalho e na dedicação de ambos os gêneros aos cuidados familiares.

A medicina é área tradicionalmente prestigiada e de notória necessidade de estudo e aprimoramento contínuos, e seus profissionais merecem serem valorizados independentemente do gênero. As diversas especialidades colaboram entre si e igualmente contribuem para o bem estar da sociedade, portanto, os profissionais devem ser remunerados de forma justa durante todas as etapas de sua carreira.

*Claudia Abdul Ahad Securato, sócia de Oliveira, Vale, Securato e Abdul Ahad Advogados

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Assessoria de Comunicação