Artigo - E por que a saúde também não?
Francisco Balestrin*
A saúde privada no Brasil é responsável por 55% das despesas do setor, ao contrário da maioria dos países desenvolvidos, nos quais cerca de 72% dos custos são financiados pelo governo. O total de gastos com saúde no país, em 2009, atingiu R$ 280 bilhões, o que representa algo em torno de 9% do PIB.
Esse complexo sistema, segundo dados oficiais do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes/Datasus), emprega, somente nas profissões de saúde, mais de 2 milhões de pessoas. Apenas os profissionais de enfermagem são responsáveis por 30% do total.
De acordo com dados de junho de 2012, havia no país 455.390 leitos, sendo 290 mil correspondentes a leitos ofertados em estabelecimentos privados.
Nos últimos anos, também pelo Cnes, o número de leitos nos hospitais caiu 9%, ou seja, foram fechados algo em torno de 44 mil leitos. Entre os leitos financiados pelo SUS em estabelecimentos privados, a redução foi de quase 24%. Por seu lado, as famílias gastam cada vez mais em saúde. Dados do IBGE demonstram que 6% da renda familiar são comprometidos com assistência à saúde. Os gastos com medicamentos e planos de saúde são os de maior representatividade.
Um setor com essa dimensão está na vida dos cidadãos em todas as dimensões: zelando pela saúde, bem mais precioso, assim como proporcionando emprego. Para este ano, estima-se que a receita do setor privado hospitalar brasileiro atinja R$ 80 bilhões. Somente em salários diretos serão despendidos algo como R$ 7 bilhões, o que gera uma contribuição previdenciária em torno de R$ 1,8 bilhão.
Com o objetivo de reduzir custos das empresas para combater o desaquecimento da economia e manter o nível atual de empregos, ou mesmo elevá-lo, acertadamente o governo da presidente Dilma vem propondo a desoneração de setores da economia. Bom exemplo é a Medida Provisória 563, que amplia o programa Brasil Maior e estabelece, entre outros pontos, a desoneração da folha de pagamentos de alguns setores. Ou seja, em vez de punir as empresas que contratam mão de obra de forma intensiva, o governo pretende estimular a contratação, com a tributação de percentual de 1% a 2% do faturamento.
Setores tais como confecções, couro e calçados, móveis, hotéis e até fornecedores de rochas ornamentais e fabricação de brinquedos estão incluídos nessas ações, que são altamente benéficas para nossa economia. E o setor hospitalar privado?
Na média, o setor de saúde é um dos maiores contratantes do mercado, de acordo com estatísticas da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). Tem-se algo como quatro funcionários por leito, além de uma constelação de empregos indiretos, gerados na prestação de serviços aos hospitais e clínicas. Muito onerado, sua carga tributária chega a mais de 28% e ainda não foi contemplado com nenhuma perspectiva de redução de impostos.
Se o setor isonomicamente fosse também contemplado com alíquotas entre 1% e 2% de contribuição, teríamos um efeito em torno de R$ 750 a R$ 900 milhões de economia por ano. O montante poderia ser investido em ampliações e construções, compra de equipamentos, manutenção de emprego, fôlego para pagamento de dívidas, inclusive fiscais, e ainda contemplaria uma elevação de contribuição de Imposto de Renda (IR) e Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSSL) por parte dos hospitais e clínicas.
O setor aguarda, confiante, por novo olhar das autoridades governamentais e pleiteia a possibilidade de desoneração, assim como outros setores estão sendo beneficiados, para poder continuar a missão de contribuir decisivamente com a saúde dos cidadãos brasileiros.
* Francisco Balestrin é médico, administrador hospitalar, presidente do Conselho da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp)
Fonte: Correio Braziliense