Postado em: 25/05/2016

Ahpaceg na Mídia - Menos leitos, mais dor e aflição

AHPACEG NA MÍDIA

Goiás perdeu 1.461 vagas de internação de 2010 a 2015. Situação piora com jogo de empurra

 

Cleomar Almeida O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

O dia se divide entre a cadeira de rodas e a cama. "Grito de dor." A doméstica Ivani Gonçalves tem 59 anos. "Não consigo vaga para cirurgia." Vive presa dentro do barracão onde mora, no Jardim Liberdade, Região Noroeste de Goiânia. É uma das castigadas pela redução de 1.461 leitos do Sistema Único de Saúde (SUS), em Goiás, entre 2010 e 2015, como aponta levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgado na última semana. A queda no Estado (11,5%) é a sexta maior do País.

Enquanto cai o número de vagas, a dor e o desespero de pacientes só aumentam. Entre janeiro e maio deste ano, Goiás já perdeu mais 83 vagas de internação do SUS, em relação a 2015, caindo para 11.123 leitos no total. A quantidade conseguiria atender a menos de 2% dos goianos se todos procurassem o sistema gratuito para tratamento de saúde. Em Goiânia, o número de leitos do SUS passou de 3.581, em 2010, para 3.206, em 2016, uma redução equivalente a 10,5%.

Ivani precisa de cirurgia para trocar a prótese do quadril, importada, colocada desde que sofreu acidente de trânsito, e transplante com enxerto ósseo na região da bacia, como mostra o relatório assinado pelo médico Flávio Dorcílio Rabelo, em julho de 2015. Ela só conseguiu fazer a primeira cirurgia em um hospital privado que era conveniado com o SUS. A rede conveniada tem diminuído os atendimentos, alegando falta de pagamento adequado.

Levantamento da Secretaria Estadual de Saúde (SES) revela dois contrapontos. Desde 2010, subiu o número de vagas do SUS em UTI em Goiás, chegando a 698 leitos, em maio de 2016. Por outro lado, caiu a quantidade em enfermaria, despencando para 10.425, no mesmo período. No entanto, autoridades do setor público protagonizam um jogo de empurra para apontar o principal responsável pelo problema.

Subfinanciamento

O secretário estadual de Saúde, Leonardo Vilela, diz que o número de leitos em UTI aumentou porque o Estado complementa a diária até o valor de R$ 1,1 mil. Segundo ele, o Ministério da Saúde só repassa cerca de 40% do total. "Cada vez mais há um subfinanciamento do SUS peloMinistério da Saúde. Os Estados e municípios estão aumentando o aporte de recursos", reclama.

Em nota, o Ministério da Saúde confirma que, desde 2010, há 23,8 mil leitos a menos em hospitais privados no País. A pasta não se pronunciou sobre repasses, mas diz que o ministro da Saúde, Ricardo Barros, pretende melhorar a gestão da área para reativar leitos. Até lá, pacientes como Ivani devem continuar sofrendo. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que não há como precisar a data de realização da cirurgia da paciente, pois cada caso depende de disponibilidade de vagas.

 

Seis cidades goianas perderam 285 leitos conveniados ao SUS

 

Presidente da Associação dos Hospitais no Estado de Goiás (Aheg), o médico Fernando Antônio Honorato da Silva e Souza confirma que hospitais privados desativaram 285 leitos do SUS no Estado. As principais quedas foram registradas, segundo ele, em Goiânia (85), Anápolis (48), Goianésia (47), Inhumas (41), Niquelândia (38) e Porangatu (26). Unidades de saúde filantrópicas e municipais também fecharam as portas para o SUS.

Representante de 305 hospitais privados no Estado, a Aheg informa que repasses de R$ 10 milhões por mês eram feitos à rede conveniada. "Hoje não estão gastando nem R$ 5 milhões", afirma Souza. "É uma briga que a gente não sabe entender. Não sabe direito quem deixa de fazer o repasse, se é o Estado ou a União. Isso tudo inviabiliza qualquer esforço porque os hospitais têm de pagar água, luz, telefone e imposto. A vida do hospital deve continuar de qualquer jeito", acrescenta ele.

A queda de atendimentos a pacientes também foi verificada pelo presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), o médico Haikal Helou. Ele diz que, por mês, oito unidades realizavam 270 internações em leitos do SUS, em média, no ano passado. Este ano caiu para 90 internações. "O corte de repasses foi muito alto, por isso a redução dos leitos se acentuou. Todos sofrem, mas o sofrimento da população é muito maior", afirma.

Em um dos casos mais emblemáticos, um hospital de alta complexidade que internava até 15 pacientes por dia, passou a realizar apenas três internações.

 

Médicos cobram melhoria na gestão da saúde pública

 

Representantes do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) e do Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego) cobram a melhoria da gestão de recursos para o sistema Único de Saúde (SUS), para garantia de atendimento adequado à população.

Presidente do Simego, o médico Rafael Cardoso Martinez defende o fortalecimento do sistema. "A prioridade dos gestores deve ser resolver o problema e não empurrar o problema", assevera ele, pontuando que, em vez de aumentar a sua abrangência, o SUS tem diminuído a sua cobertura, em afronta à Constituição.

A situação começou a se agravar desde o ano passado, como observa o presidente do Cremego, o médico Aldair Novato. "Houve um desinteresse da rede privada em continuar a assistência à saúde por causa da falta de recursos", lamenta. "O elo mais frágil de toda essa situação é o cidadão carente, que não pode pagar", aponta. (O Popular - 23/05/16)