Postado em: 06/05/2015

Ahpaceg na Mídia - Epidemia de dengue lota os hospitais privados

Matéria publicada hoje (06/05/15) no jornal O Popular mostra que a epidemia de dengue que atinge o Estado agravou o problema de lotação na rede hospitalar privada. Em abril, o número de pacientes que buscaram os hospitais associados da Ahpaceg aumentou entre 40% e 60%. O presidente da Ahpaceg, Haikal Helou, falou sobre esse aumento, que veio agravar a crise enfrentada pelos hospitais. Confira a matéria:

O POPULAR 06 05 15 final

Epidemia lota rede particular
Pacientes que buscam atendimento nas instituições privadas sofrem com demora e longas filas
Eduardo Pinheiro

Um aviso colado no guichê de atendimento de um hospital no Setor Coimbra, em Goiânia, informa que o atendimento está prejudicado pelo surto de dengue no Estado. Os corredores da instituição confirmam a situação: abarrotados e com longas esperas. Pacientes reclamam da falta de leitos e demora. Situação normal para quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS), não fosse este um o hospital particular.

A situação não é exclusividade de um único hospital. Toda rede particular sofre os reflexos da epidemia de dengue que assola Goiás. Somente no último mês, a procura por instituições de saúde privadas aumentou entre 40% e 60%, reflexo direto da epidemia. Com a greve dos servidores municipais da saúde, o que já era complicado, piorou. Diante desse incremento, na última semana alguns hospitais chegam a negar atendimento por falta de leitos.

O estudante Arthur Urzeda, de 21 anos, aguardava atendimento deitado em um banco na ala externa de um hospital particular. Era o 31º na fila de espera. A suspeita era dengue. “Os hospitais estão muito cheios, a espera é longa e o atendimento precário. Ter plano de saúde não quer dizer nada hoje em dia”, desabafa.

A servidora pública Mara Auxiliadora, de 46 anos, também sofre do mesmo problema. Já diagnosticada com dengue há pelo menos um mês, ela reclama do descaso. Precisa de internação, pois sofre com outras doenças e está desidratada, mas não consegue por falta de leitos. “Faço o monitoramento, tomo soro, medem minhas plaquetas e me mandam embora. Estou fraca, preciso de tratamento adequado”, diz, enquanto espera ser atendida em um dos guichês de outro hospital.

Leitos

A falta de leitos é preocupante. De acordo com dados da Associação dos Hospitais de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), os 1,3 mil leitos de 16 das maiores instituições de Goiânia, Aparecida de Goiânia, Catalão e Anápolis estão sobrecarregados, sem condições de receber um aumento no número de pacientes. Com a epidemia de dengue, a situação se agravou e chegou ao limite.

O presidente da Ahpaceg, Haikal Helou, afirma que a epidemia de dengue só deixou claro um problema que já ocorre há mais tempo. Segundo ele, o meio hospitalar vive uma crise e a falta de leitos é o maior reflexo dela. “Diferentemente de outros setores, como o de restaurantes, que estão em crise por falta de clientes, enfrentamos o problema com casa cheia. O fato de não abrir um hospital sequer nos últimos oito anos mostra isso, é caro manter um hospital e o investimento é alto”, diz.

Sete dos 18 óbitos ocorridos em decorrência da doença em Goiás são de instituições particulares. Dados do Ministério da Saúde mostram que Goiás é o segundo Estado com maior incidência de dengue no Brasil, com 968,9 casos por 100 mil habitantes.

Representantes das secretarias municipal, estadual e planos de saúde chegaram a se reunir na semana passada. A melhoria de acesso ao atendimento dos pacientes da rede particular, o incremento na exigência de conduta adequada em relação ao manejo clínico dos doentes e a melhora da notificação dos casos foram os pontos discutidos.
novos leitos
Haikal Helou afirma que a solução para o gargalo na rede de saúde particular passa pela abertura de novos leitos. No entanto, é preciso um grande investimento. Segundo ele, para cada novo leito, seria preciso investir cerca de R$ 100 mil. Uma dos possibilidades seria a busca de investimentos por meio do programa do governo estadual Goiás Fomento, mas a crise financeira que vive o Estado parece ter adiado essa perspectiva.

 

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Verba contra dengue não foi usada
Brasília - A Comissão de Fiscalização e Controle do Senado aprovou ontem, requerimento para que o ministro da Saúde, Arthur Chioro, esclareça as razões de a pasta não ter usado até o momento R$ 13,7 milhões do programa de Coordenação Nacional da Vigilância, Prevenção e Controle da Dengue. De acordo com dados apresentados pelo partido, em 2013, o governo havia investido R$ 20 milhões nesse programa. No ano passado, o investimento caiu para R$ 6,6 milhões. Neste ano, havia a previsão de investimento de R$ 13,7 milhões, mas apenas R$ 2,8 milhões foram empregados no combate à doença.

O Brasil vive uma epidemia de dengue. Este ano, foram confirmadas 229 mortes causadas pela doença - 44,9% a mais do que foi registrado no mesmo período de 2014. O Ministério da Saúde negou que o aumento de casos esteja relacionado à falta de investimento em ações de prevenção e controle da doença. Em nota, afirmou que os repasses para ações de controle da dengue estão em dia e são financiados não apenas pelo programa citado pelo DEM.

A pasta informou que a principal fonte de recursos para prevenção e controle da doença é o Piso Fixo de Vigilância em Saúde que, para este ano, tem previsão de R$ 1,25 bilhão. Até agora, ainda segundo a nota, foram repassados cerca de R$ 300 milhões, dos quais cerca de 60% foram usados para dengue. De acordo com o ministério, os repasses desse fundo estão em dia.

O Ministério informou que no fim de 2014 foram repassados ainda R$ 150 milhões adicionais para financiar ações de combate ao mosquito transmissor da doença. A coordenação geral de programa nacional de controle da dengue, citada pelo DEM, é outro caixa de recursos. A verba ali contida é destinada a estudos de vigilância ou assessoria técnica para Estados e municípios. Em 2014, foram autorizados R$ 10,1 milhões - que representa a 0,8% do recurso do Piso Fixo de Vigilância em Saúde - dos quais R$ 5,9 milhões foram pagos. Para o orçamento de 2015, já foram executados (empenhado e comprometido para cumprimento constitucional da EC 29) R$ 8,1 milhões dos R$ 13,7 milhões, crescimento de 37% em comparação a 2014.

Editorial - Alerta total
Desde o início do ano, as informações sobre o avanço da dengue têm surpreendido a cada boletim divulgado pelo Ministério da Saúde. Os números de segunda-feira foram alarmantes. A ONU considera epidemia a incidência de 367,8 casos por 100 mil habitantes. Em Goiás a incidência já é de 968,9 por 100 mil, o que deu ao Estado o triste título de vice-campeão da dengue, atrás apenas do Acre.

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, não quis responsabilizar ninguém pelo crescimento da doença. Autoridades de saúde de Goiânia culpam a chuva fora de época no Estado, mas também revelam um grande complicador, o déficit de agentes de saúde. Existem no Estado 3,2 milhões de imóveis a serem vistoriados e somente 2,2 mil profissionais.

Também é maior o número de pessoas susceptíveis, já que os vírus em circulação ocorrem simultaneamente do tipo 1 e 4. Por fim a de se considerar que a população ainda contribui para a elevação da dengue ao não combater os criadouros do mosquito Aedes aegypti.

Com esses números tão elevados, atualmente todo mundo conhece alguém no trabalho, na família ou entre amigos que está com dengue. Esse já é um grande alerta para que a vigilância seja permanente, pois o mosquito está nascendo e crescendo perto de cada um. Não há vacina para esta doença, assim o principal combate é a prevenção.