Postado em: 27/01/2015

Artigo - Governos federal e municipais deixam de repassar verbas para o SUS e promovem falência de hospitais conveniados

Reportagem do Diário da Manhã deste sábado, 24.01.15, mostra que a Associação de Hospitais de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) está se mobilizando energicamente, contundentemente, contra o não-pagamento da produção hospitalar do SUS feita pelos governos. Suspensão de atendimento, judicialização intensiva, denúncia ao Ministério Público, pelo que entendi, podem estar na sua pauta de atuação. É intrigante que associações com mais membros, ou mais poderosas, como, por exemplo, a Associação dos Hospitais do Estado de Goiás, ou mesmo a Federação Brasileira dos Hospitais, parecem optar por não confrontarem os governos assim tão de frente. A FBH soltou uma notinha de indignação (as entidades médicas brasileiras adoram notinhas) no final do ano, mas parece ter ficado só nisso. A Associação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos parecem nem existir, e daqui uns dias, com a falência de todos seus associados, não vão existir mesmo. Grande parte de seus membros está falindo ou desaparecendo e, muito estranhamente, não se nota atitudes enérgicas por parte delas. Se fosse diretor de um grande hospital, e não de um muito pequeno e pobre, até tentaria pular fora do barco enquanto é tempo, afiliando-me a uma associação que, de fato, lutasse por nossos direitos. O atraso do SUS já chega a quase quatro meses e compromete gravemente todas as nossas finanças, além de 20 anos que já se escoam sem reajuste real da tabela do SUS. A Santa Casa de SP, p.ex., está demitindo quase 2.000 funcionários, e tem uma dívida de quase 1 bilhão. Grande parte dos hospitais que atendem SUS estão quebrando pelo País. O Brasil perde uma média de 15 leitos do SUS por dia, por causa desta política “hospitalocida” do governo. São leitos para pacientes pobres, que não reclamam, “morrem em silêncio”; o governo, como manobra de camuflagem, joga a culpa em planos de saúde, nos “donos de hospitais”, ou simplesmente nos médicos. Nós, cidadãos comuns, não podemos atrasar nem um dia nossos pagamentos que somos duramente penalizados. Já o governo, aparentemente com o beneplácito e vistas-grossas das instituições (jurídicas, MP, Legislativo, etc), pode dar o calote em todo mundo, e para isso muda até a Constituição (vide a jogada de Dilma no Congresso, “comprando” deputados para acabar com a Lei de Responsabilidade Fiscal).


O jogo de empurra não tem fim: o Governo Federal diz que já depositou o dinheiro do pagamento do SUS, osgovernos municipais dizem que não. O Governo Federal diz que as prefeituras estão retendo pagamentos para quitar dívidas próprias (leia-se : “Cevar o curral de cabos eleitorais cabides de empregos”). A verdade é uma só : os sucessivos governos do PT afrouxaram as políticas de responsabilidade fiscal, de modo que, hoje em dia, toda prefeitura deste País, inclusive a de Goiânia, sente-se no direito de aplicar a “política esquerdista-petista”: inchar a máquina pública de apaniguados, funcionários, “concurseiros dependentes do governo”. Com uma base ideológica frágil, cujos líderes estão quase todos presos ou indiciados por roubo, o funcionário público é o “último curral eleitoral” que sobrou ao governo, daí sua “necessidade visceral” de mais contratações e mais “benefícios sociais”. As prefeituras, vendo que a União faz isdo, simplesmente “copia a chefe”. Aí não sobra dinheiro para mais nada, inclusive para a saúde; são governos que vivem apenas para alimentar-se a si mesmos, e não prestar serviços. Uma outra política do Governo Federal , hoje amplamente copiada por muitas prefeituras (tanto do PT quanto não-PT), é a do desprezo , e mesmo “ataque”, a toda instituição de saúde não-estatal. Para as estatais as benesses e as tolerâncias são totais. O claro objetivo petista é a estatização completa do sistema médico-hospitalar. Dentro desta filosofia, um “hospital não-estatal a mais, outro a menos”, não faz diferença – mesmo que tais hospitais prestem serviços ao SUS.


(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)

Fonte: Diário da Manhã, 27/01/15