Postado em: 16/04/2025

CLIPPING AHPACEG 15 E 16/04/25

ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.

DESTAQUES

Excesso de processos judiciais contra a Unimed Goiânia motiva parceria com a Justiça de Goiás para conciliação com usuários

https://www.jornalopcao.com.br/saude/excesso-de-processos-judiciais-contra-a-unimed-goiania-motiva-parceria-com-a-justica-de-goias-para-conciliacao-com-usuarios-698169/#google_vignette

Preços de medicamentos para hospitais sobem 0,36% em março

https://medicinasa.com.br/precos-medicamentos-marco/

Executivo ex-Kora assume área de tecnologia do Sírio Libanês

https://www.folhavitoria.com.br/folha-business/executivo-ex-kora-assume-area-de-tecnologia-do-sirio-libanes/

'Fui diagnosticada com doença autoimune grave, 5 anos depois descobri que era só estrabismo', conta vítima de erro médico

https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2025/04/16/fui-diagnosticada-com-doenca-autoimune-grave-5-anos-depois-descobri-que-era-so-estrabismo-conta-vitima-de-erro-medico.ghtml

Alunas de medicina que expuseram paciente transplantada podem ser punidas?

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2025/04/16/estudantes-medicina-paciente-redes-sociais-punicao.htm

Deputados voltam a disparar contra secretário de Saúde

https://ohoje.com/2025/04/15/deputados-voltam-a-disparar-contra-secretario-de-saude/

Lucro recorde e desafios desiguais: a sustentabilidade da saúde suplementar em 2025

https://www.saudebusiness.com/mercado-da-saude/lucro-recorde-e-desafios-desiguais-a-sustentabilidade-da-saude-suplementar-em-2025/

JORNAL OPÇÃO

Excesso de processos judiciais contra a Unimed Goiânia motiva parceria com a Justiça de Goiás para conciliação com usuários

Demandas pré-processuais e processuais envolvendo a Unimed Goiânia serão priorizadas pelo TJ-GO. Unimed está disposta a colaborar em acordos

Tratamentos de câncer, pós-bariátrico e para pessoas autistas são as principais questões que levam os usuários de planos de saúde em Goiás à Justiça, segundo o juiz Eduardo Perez Oliveira. Na segunda-feira, 14, ele participou da assinatura do termo que oficializou a parceria entre o Tribunal de Justiça e a Unimed-Goiânia, que busca conciliação com os usuários a fim de desobstruir esse excesso de processos judiciais. 

Segundo o TJ-GO, 207 ações tramitam na comarca de Goiânia contra a Unimed-Goiânia somente em 2025. Já de 2024, são 631 ações, enquanto em 2023, o Núcleo de Apoio Técnico do Poder Judiciário (Natjus Goiás) recebeu 511 ações contra a Unimed-Goiânia.

“São centenas de processos. São vários tipos de procedimentos distintos, mas sim, são muitos processos, não são poucos”, afirmou o juiz. 

Ele é coordenador do Natjus Goiás, e aponta que o objetivo da parceria é selecionar temas (e os expandir gradativamente) para propor a conciliação, “para que a gente possa consolidar essa confiança na conciliação como meio melhor para a solução dos problemas. Rápido, seguro, eficaz e gratuito”.

Além dos temas já mencionados como pertinentes nos processos jurídicos, o juiz ainda coloca cuidados de home care e tratamentos específicos como causadores de conflitos entre os usuários e a Unimed. Isso acontece por conta do conflito de interesses. Por exemplo, quanto às cirurgias pós-bariátricas e a discussão se seriam estéticas ou não.

Conciliação

O TJ-GO vai receber as demandas pré-processuais indicadas pela Unimed e priorizar a realização dessas conciliações em até cinco dias úteis, conforme explicou o juiz Eduardo Perez. Sobre os processos que já estão em andamento, a Justiça deve priorizá-los em até 10 dias. Ele garante que os processos serão resolvidos gradualmente.

“Teremos conciliadores capacitados para lidar com o caso, e a partir daí, sendo celebrado um acordo, este será homologado pelo Tribunal de Justiça. Obviamente, a Unimed tem que estar disposta a comparecer e a Unimed declarou a intenção realmente de colaborar e de realizar acordo em alguns casos para viabilizar o interesse do paciente”, afirmou o juiz.

Essa tratativa com a Unimed-Goiânia é antiga, segundo Eduardo. “Tudo depende muito da gestão deles também, no interesse de realizar. Diante da existência de tantos processos, da possibilidade de conciliação, a convencionar-se a realização de um termo de cooperação para que se possa fazer esses acordos”, afirmou.

Em nota, a Unimed-Goiânia afirmou que a “iniciativa busca promover soluções conjuntas com mais agilidade, estimulando o diálogo direto com os usuários e contribuindo para a redução da judicialização”. Além disso, informou que a expectativa é que o novo formato “proporcione acordos mais rápidos, eficientes e humanizados, fortalecendo a relação com os usuários” – confira abaixo a nota na íntegra.

“Quando você tem esse caminho [a conciliação], a judicialização se torna menos interessante, porque ela é mais demorada e cara, tem todo um estresse envolvido, que pode demorar até anos. Então, um caminho fácil, um caminho viável, um caminho gratuito, porque a conciliação é gratuita, ela diminui o conflito”, concluiu o juiz.

O objetivo final da parceria é que os usuários que tiverem problemas com o plano, não abram novos processos imediatamente, mas que optem pela conciliação por meio do Tribunal de Justiça. O juiz destaca que este o ideal é que este canal esteja de “muito fácil acesso para o consumidor, da melhor forma de contato”.

“Lógico que nem todos os casos é possível realizar conciliação, mas é um caminho viável para o consumidor antes de resolver eventualmente ajuizar uma ação”, disse.

Nota da Unimed Goiânia na íntegra

“A Unimed Goiânia – Cooperativa de Trabalho Médico firmou, no dia 14 de abril, termo de cooperação com o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), com o objetivo de fortalecer o uso da conciliação e da mediação como formas de resolver demandas envolvendo seus beneficiários.

A iniciativa busca promover soluções conjuntas com mais agilidade, estimulando o diálogo direto com os usuários e contribuindo para a redução da judicialização. O termo formaliza uma atuação já existente entre as instituições, agora ampliada para incluir a conciliação pré-processual, por meio do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) da Saúde.

A Unimed Goiânia reafirma seu compromisso com a transparência, a escuta ativa e o respeito aos direitos dos beneficiários. A expectativa é de que o novo formato proporcione acordos mais rápidos, eficientes e humanizados, fortalecendo a relação com os usuários e contribuindo para a construção de soluções sustentáveis com apoio técnico do Poder Judiciário“.

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MEDICINA S/A

Preços de medicamentos para hospitais sobem 0,36% em março

O Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H), resultado de uma parceria entre a Fipe e a Bionexo, empresa de tecnologia SaaS especializada em soluções de gestão para instituições da área da saúde, apresentou um avanço de 0,36% em março de 2025, desacelerando em relação à alta de 1,13% registrada no mês anterior. Com esse resultado, o IPM-H acumulou uma variação positiva de 1,15% no primeiro trimestre de 2025, enquanto a variação acumulada nos últimos 12 meses atingiu 4,24%.

Comparativamente, a prévia da inflação ao consumidor no mês de março, medida pelo IPCA-15 do IBGE, apontou uma variação de 0,64%, enquanto o IGP-M/FGV, registrou uma deflação de 0,33% no mesmo período. Além disso, dados do Banco Central indicaram uma apreciação de 0,33% da moeda brasileira em relação ao dólar no período1.

De acordo com Bruno Oliva, economista e pesquisador da Fipe, “os resultados de março vieram próximos de nossa expectativa. Considerando a sazonalidade, a alta mensal de 0,36% foi similar àquela observada em março de 2024, mantendo-se pouco abaixo da média observada para esse mês entre 2015 e 2024 (+0,70%), que sofreu influência da alta dos preços durante a pandemia. Considerando a alta acumulada pelo IPM-H em 12 meses, que é de 4,24% (abaixo do IPCA acumulado no período), a atenção se volta agora para o comportamento esperado dos preços dos medicamentos no próximo mês, quando entrarão em vigor os novos reajustes anuais da CMED, cuja média também ficou abaixo da inflação em 12 meses”

Entre os grupos terapêuticos que compõem a cesta de cálculo do IPM-H, os resultados mensais de março foram influenciados, pelo lado positivo, principalmente pela elevação nos preços de aparelho digestivo e metabolismo (+2,43%). Em seguida, destacam-se os grupos: preparados hormonais (+0,92%); agentes antineoplásicos (+0,73%); imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (+0,63%); anti-infecciosos gerais para uso sistêmico (+0,55%); e aparelho respiratório (+0,20%). Em contrapartida, sete grupos terapêuticos que compõem a cesta do índice apresentaram retração mensal, sendo a mais expressiva observada no grupo sistema musculoesquelético (-2,41%). Em sequência, figuraram: aparelho geniturinário (-3,43%); sistema musculoesquelético (-2,61%); sistema nervoso (-1,16%); sangue e órgãos hematopoiéticos (-1,00%); aparelho cardiovascular (-0,61%); e órgãos sensitivos (-0,53%).

Considerando o resultado do IPM-H no primeiro trimestre (+1,15%), os aumentos de preço abrangeram os grupos: aparelho digestivo e metabolismo (+5,04%); imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (+4,97%); agentes antineoplásicos (+1,07%); e aparelho respiratório (+0,03%). Por outro lado, destacam-se as quedas nos grupos sistema musculoesquelético (-3,76%); aparelho cardiovascular (-1,78%); órgãos sensitivos (-1,34%); sangue e órgãos hematopoiéticos (-1,19%); sistema nervoso (-0,35%); anti-infecciosos gerais para uso sistêmico (-0,34%); preparados hormonais (-0,29%); e aparelho geniturinário (-0,28%).

Já no acumulado dos últimos 12 meses, a variação positiva do IPM-H (+4,24%) é impulsionada por: aparelho digestivo e metabolismo (+18,98%); imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (+12,77%); anti-infecciosos gerais para uso sistêmico (+4,49%); agentes antineoplásicos (+4,21%); aparelho respiratório (+3,07%); órgãos sensitivos (+1,64%); sistema nervoso (+1,41%); e preparados hormonais (+1,36%). Em contraponto, os preços recuaram em 12 meses no sistema musculoesquelético (-10,39%); aparelho cardiovascular (-4,26%); sangue e órgãos hematopoiéticos (-3,40%); e aparelho geniturinário (-0,92%).

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FOLHA BUSINESS

Executivo ex-Kora assume área de tecnologia do Sírio Libanês

O Hospital Sírio-Libanês, uma das instituições de saúde mais renomadas do país, acaba de contratar Alex Julian como Chief Information Officer (CIO) da instituição. Com mais de 20 anos de experiência em tecnologia da informação, ele acumula uma trajetória sólida no setor, tendo atuado nos últimos três anos como CIO da capixaba Kora Saúde.

"Saúde sem tecnologia não existe mais", afirma Alex Julian

Durante sua passagem pela Kora, Alex foi responsável pela criação e consolidação de um blueprint (ferramenta visual que permite mapear processos e interações de um serviço ou produto) de tecnologia, garantindo conectividade eficaz entre sistemas assistenciais interoperáveis e de backoffice, além de definir e executar uma estratégia robusta de infraestrutura em nuvem para otimizar as operações da empresa.

"Foram três anos nessa empresa, que é referência no Espírito Santo, onde tive a oportunidade de estruturar sistemas de segurança da informação, infraestrutura e dados, colocando tanto a tecnologia quanto os serviços que a área de tecnologia presta para a organização em um outro patamar. A Kora se consolidou como uma empresa dominante, não só em terras capixabas, mas nos demais mercados em que atua", afirma o executivo.

Além da estruturação de sistemas assistenciais e corporativos, ele relembra um dos projetos mais marcantes durante o período: o desenvolvimento do Ziggy AI!, um robô de convivência que percorreu as alas pediátricas dos hospitais capixabas, levando acolhimento às crianças internadas - iniciativa que, segundo o executivo, uniu tecnologia, inovação e cuidado de forma humanizada.

Alex afirma que a tecnologia já é peça central na estratégia das organizações de saúde e defende que sua aplicação precisa ir além do suporte técnico, assumindo um papel estratégico e orientado ao negócio.

"Saúde sem tecnologia não existe mais. O nosso papel, hoje, é facilitar o cuidado, apoiar o corpo clínico com dados para engajar os pacientes e buscar eficiência no uso dos recursos. A tecnologia não pode ser um prestador de serviço do hospital, tem que ser uma área que gera negócio e que seja um facilitador entre o negócio e o paciente", completa.

Mesmo em fase de transição no novo cargo, o executivo adianta que seu foco seguirá sendo o mesmo: aliar inovação à eficiência e, sobretudo, ao cuidado com o paciente.

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O GLOBO ONLINE

'Fui diagnosticada com doença autoimune grave, 5 anos depois descobri que era só estrabismo', conta vítima de erro médico

Em depoimento ao GLOBO, Ana Terra Pompeu fala que precisou se submeter a tratamento pesado e desnecessário, que envolveu inclusive a retirada de um órgão saudável

"Meu nome é Ana Terra Pompeu, tenho 34 anos e sou de Campinas, interior de São Paulo. Vim para a capital em 2014 fazer mestrado e dar início à minha carreira como fonoaudióloga. Comecei trabalhando só com cantores, nessa época mais com o pessoal do rap. Eles estavam em ascensão, então trabalhavam muito e, consequentemente, eu também. Por conta do mestrado, que também era bem puxado, quando somava todas as minhas horas de trabalho e estudo dava mais ou menos 18 por dia, era um ritmo intenso, ainda mais para alguém que veio do interior.

Em 2015, comecei a ter visão dupla, mas só ao final do dia, por volta de 21h, 22h. Eu pensava que todo mundo tinha visão dupla quando estava cansado como eu, com uma rotina tão exaustiva. Eu só via duplicado objetos que estavam longe, então como ficava mais no computador isso não me incomodava tanto. Só que, com o tempo, a visão dupla foi surgindo cada vez mais cedo até ficar insustentável. Eu atendia e via dois clientes.

Fui ficando preocupada e comecei a procurar médicos. Passei por uns seis oftalmologistas e ninguém sabia o que era. Todos falavam que era estresse, que minha carga de trabalho era insana, que eu precisava diminuir. Em 2016, quando terminei o mestrado, consegui reduzir bastante meu tempo de estudo e trabalho por dia.

Mas a minha visão só piorava. Até que chegou a um ponto que comecei a cair, não conseguia andar na rua sozinha. Já caí da escada, fraturei o pé. Até chegar a um momento em 2019 em que eu não conseguia mais fazer praticamente nada sozinha porque todas as imagens que eu via eram duplas.

Eu não tinha convênio, e o SUS era muito concorrido, então usei toda minha reserva que tinha construído desde que cheguei em São Paulo para pagar médicos particulares de referência. Um deles desconfiou que era miastenia gravis (doença autoimune que causa fraqueza muscular progressiva) porque eu relatava cansaço no rosto, muita dor de cabeça. E como eu tinha as quedas, na época associaram a um possível cansaço também nas pernas. Eu estava bem sensível, só queria um diagnóstico para tratar e curar.

Um especialista em miastenia que pediu um exame que teve como resultado uma alteração sugestiva da doença. Com a análise clínica, o médico concluiu que era miastenia e demos início ao tratamento. Em 2019, comecei a tomar corticoides e imunossupressores e fazer uma terapia com imunoglobulina que era administrada no hospital. Eu não chegava a ser internada, mas passava metade do dia lá recebendo a medicação na veia. É um remédio forte e tive todos os efeitos colaterais possíveis, parecia que meu corpo rejeitava tudo.

Fui buscar outras pessoas que tinham miastenia. Queria fazer amizade, saber como elas viviam. Porque se você procura sobre no google, aparecem fotos horríveis, de pessoas debilitadas. Queria encontrar pessoas que estivessem vivendo bem. As que eu encontrava falavam que fizeram a imunoglobulina, que tinha ajudado muito. Mas comigo parecia que eu ia morrer. Nunca desconfiei de que não tinha miastenia, pensava que era azar, que nenhum medicamento funcionava comigo.

Meu médico era referência em miastenia gravis no Brasil. Então fui seguindo o tratamento, acreditando que ia melhorar, só que cada vez eu ficava pior até que fiz uma cirurgia para retirar um órgão saudável chamado timo porque o médico disse que isso enfraqueceria o meu sistema imunológico, o que ajudaria a controlar a miastenia. Passei muito mal durante o procedimento, tive um derrame no pericárdio. Tive alergia aos medicamentos para dor, como morfina, então tive que aguentar a recuperação só com analgésicos simples.

Só que ainda assim a miastenia não melhorava, então tentamos um novo procedimento que se chama plasmaférese. Nele, você é internada, coloca-se um tubo na jugular que drena todo o seu sangue. Depois, ele é devolvido sem o plasma. Cheguei a ter uma convulsão durante o procedimento. Foi bem difícil, a pior coisa que eu já passei, mas ainda acreditava que precisava.

Depois disso tudo, engravidei em 2023 e a visão dupla piorou num nível que meu olho ficou para dentro e não saía de lá. Em nenhum momento do dia eu conseguia ver normal. Vivi uma gravidez que era de alto risco, tive sangramentos semanais porque tomava corticoides e tive um parto complexo porque o anestesista uma dose menor porque, por conta da miastenia, tinha medo de eu ter um efeito rebote e morrer. Era uma cesárea, eu gritava durante o parto.

Depois que minha filha nasceu, continuei com a visão dupla bem forte. Além da parte funcional, isso afetava meu trabalho, minha autoestima e comecei a ficar deprimida. Não conseguia imaginar viver o resto da minha vida com a diplopia, que é a visão dupla. Eu levava essas questões para o meu médico, e ele dizia que eu estava com depressão, me receitava antidepressivos, mas não me ouvia.

Ele fazia os testes e via que eu tinha força nas pernas, nos braços, que eu conseguia fazer atividades físicas, e só tinha mesmo a visão dupla. Dizia que eu tinha um "resto" da miastenia no globo ocular. Parecia que eu estava morrendo em vez de me curando. Eu comecei então a pesquisar sobre miastenia, a frequentar palestras, simpósios, tudo o que eu encontrava de eventos médicos sobre a doença.

Em um deles, um médico falava sobre algumas soluções para pacientes que tinham problemas oculares. Decidi marcar uma consulta, e ele pediu novos exames. Senti que ele ficou meio desconfiado quando relatei minha situação, mas não falou nada. Ao mesmo tempo, busquei uma nova oftalmologista. Ela percebeu que eu estava com um grau extremamente alto de estrabismo e também que eu estava ficando com catarata e prestes a ter glaucoma. Ela disse que daria para consertar o estrabismo com cirurgia, mas que eu iria perder a visão se continuasse com os corticoides.

Eu levei isso para o meu médico antigo e ele respondeu com sarcasmo, desdenhando do meu caso. Na hora, não acreditei, ele sabia que eu ia perder a visão e falou para eu continuar com os remédios. Eu permanecia com ele porque você cria um apego, passa a confiar no profissional que está com você está ali em situações difíceis. Mas depois dessa, foi aquele abraço. Nunca mais voltei nele.

Fui de novo no outro médico que tinha pedido os novos exames. Quando cheguei lá ele disse "olha, acho que você não tem miastenia". Eu fiquei sem chão, cinco anos acreditando que você tem uma doença crônica, conhecendo pessoas que sofrem com o mesmo problema. Tirei documento de pessoa com deficiência, me envolvi com todo um contexto social de ser PCD. Quando soube que possivelmente eu não tinha miastenia fiquei sem saber quem eu era.

O médico pediu novos exames, pediu para eu refazer outros testes, e tudo indicou que eu de fato não tinha nada. Mas eu continuava vendo duplicado. Nessa hora busquei mais neurologistas e oftalmos que trabalharam juntos e conversaram para tentar entender o que era o meu caso. Finalmente eu me sentia ouvida.

Eles entenderam que, na verdade, o que eu sempre tive foi só estrabismo. Minha fraqueza no rosto era de fazer esforço o tempo todo para unir a imagem duplicada, o que é realmente muito cansativo. Só que os medicamentos da miastenia afetaram a musculatura do meu rosto e pioraram o estrabismo a ponto de só dar para corrigir com cirurgia.

Fiz a operação agora no final de janeiro e me lembro de ir chorando no hospital porque eu estava tão cansada. A operação foi sem anestesia, porque se eu estivesse acordada eu poderia falar com a médica enquanto ela mexia se estava vendo duplicado ou não, então a chance de sucesso seria maior. Depois de passar por tudo que eu passei, pensei "melhor fazer acordada mesmo".

Ainda estou me recuperando, mas desde então finalmente não tenho mais a visão dupla. Viver vendo duplo é insuportável, agora me sinto invencível. Mas fiquei com algumas sequelas do tratamento desnecessário da miastenia, como a catarata e o início de um glaucoma. E virei uma pessoa corticosensível, não posso mais usar corticoide. Fora as cicatrizes, que tenho muitas dos procedimentos. Ainda assim, a sensação é de alívio.

O que eu sinto é que eu sou uma boa fonoaudióloga porque eu escuto meus pacientes na hora de cuidar deles. E sinto muito não ter sido tratada assim. Me senti abandonada. Mas espero que minha história sirva para que os profissionais da saúde prestem atenção no que os pacientes falam sobre si mesmos. O tratamento precisa ser conjunto".

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PORTAL UOL

Alunas de medicina que expuseram paciente transplantada podem ser punidas?


As duas estudantes de medicina denunciadas por expor uma paciente em vídeo no TikTok podem ser punidas no âmbito criminal e civil, de acordo com especialista consultada pelo UOL. Na publicação, as alunas descrevem a situação clínica de uma paciente, que morreu nove dias depois, para milhares de pessoas nas redes sociais. O caso aconteceu no Incor (Instituto do Coração) da Faculdade de Medicina da USP. Mesmo sem a divulgação do nome da paciente, o caso da jovem Vitória era considerado raro dentro da instituição. Por isso, a família percebeu que o conteúdo era sobre ela e, com isso, argumentam que isso constataria a falta de ética e desrespeito das estudantes de medicina. Alunas podem ser punidas? No âmbito criminal, as duas estudantes podem ser punidas pela violação do sigilo médico. Adriana Maia, advogada especializada em direito à saúde do escritório Vilhena Silva Advogados, cita o artigo 154, que trata da violação do segredo profissional.

'O resultado pode ser uma pena de detenção de três meses a um ano, ou multa. Se a violação ocorrer com o intuito de obter vantagem ou causar prejuízo, a pena pode ser agravada', explica a especialista. Outro artigo citado pela advogada é o 139 do Código Penal, de difamação. No vídeo, as alunas sugerem que a paciente teve complicações após uma das cirurgias por erro dela mesma. 'Ela não tomou os remédios que precisava tomar e o corpo rejeitou e teve que transplantar de novo por um erro dela. E agora transplantou de novo.' Por este motivo, Maia explica que elas também podem ser punidas por difamação - o ato de divulgar informações falsas ou imprecisas sobre alguém. Aqui, a punição é a mesma da violação de sigilo, detenção de três meses a um ano, e multa. Já no âmbito cível, as duas podem ser punidas por danos morais. A punição neste caso, explica a advogada, depende do juiz. Pode resultar em detenção ou em multa.

'Se a paciente estivesse viva, por exemplo, ela poderia entrar com danos materiais caso fosse necessário gastar com terapia ou consulta médica após a exposição feita nas redes', explica. Alunas ainda não têm registro no CRM (Conselho Regional de Medicina) dos estados onde vivem. Caso já tivessem registro, elas poderiam receber punições que vão desde advertências, penas disciplinares e até cassação do registro médico, explica a especialista. Relembre o caso No vídeo, as estudantes descrevem a situação de Vitória para milhares de pessoas. O vídeo foi excluído da rede social após repercussão, mas já contava com milhares de curtidas e centenas de comentários. Ainda no vídeo, uma delas sugere que a paciente teve complicações após uma das cirurgias por erro dela mesma. O vídeo tem pouco mais de dois minutos e as estudantes vão se intercalando nas falas. 'Sete vidas', diz outra estudante. A segunda aluna complementa a fala da colega satirizando a situação da paciente, segundo a família.

'Essa menina está achando que tem sete vidas? (...) Eu tô em choque', complementa. Ao fim do vídeo, as mulheres dizem que desejam melhoras para a paciente. Vitória morreu nove dias depois da gravação. Polícia investiga. O caso foi registrado como injúria no 14º Distrito Policial de Pinheiros, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Alunas eram de outra universidade e estavam fazendo curso de extensão no Incor, explica USP. Ao UOL, a Faculdade de Medicina de São Paulo explicou que as universidades de onde as estudantes vieram foram notificadas sobre o ocorrido. Alunos de curso de extensão receberão orientações sobre como se portar nas redes sociais e assinarão termo de compromisso, diz a universidade. 'A FMUSP repudia com veemência qualquer forma de desrespeito a pacientes e reafirma o compromisso inegociável com a ética, a dignidade humana e os valores que norteiam a boa prática médica', afirmou em nota.

As estudantes apagaram os próprios perfis nas redes sociais. Alunas lamentaram a morte da paciente 'Estamos vindo a público para dizer para a família que realmente sentimos muito pela perda e deixar claro que a nossa intenção jamais foi expor', disseram Gabrielli Farias de Souza e Thaís em vídeo ao g1. 'A única intenção do vídeo foi demonstrar surpresa por um caso clínico raro que tomamos conhecimento dentro de um ambiente de prática e aprendizagem médica', completaram. Elas também afirmaram que desconheciam a identidade da paciente. 'É muito importante ressaltar que nós não tivemos acesso à paciente, ao seu prontuário ou divulgamos qualquer imagem relacionada a ela, nós nem sequer sabemos seu nome completo.'

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O HOJE

Deputados voltam a disparar contra secretário de Saúde

Insatisfação dos deputados com o secretário não é recente, mas ganhou contornos mais graves no início deste ano

Durante o Pequeno Expediente da última segunda-feira, 14, o deputado Amauri Ribeiro (UB) fez uso da tribuna para comentar o cancelamento da audiência pública com o secretário de Estado da Saúde, Rasivel dos Reis, por iniciativa do representante da pasta. Na oportunidade, Amauri relembrou o período em que foi prefeito do município de Piracanjuba e da relação que tinha com os vereadores da cidade.

“Fui prefeito e vereador, e, enquanto eu fui vereador, eu convoquei um prefeito para explicar seus erros. Virei prefeito e qualquer acusação que tivesse com meu nome eu ia à câmara municipal, porque quem não deve, não teme. E o secretário de Saúde, se não tem o que temer, não vejo o porquê da negativa em estar aqui prestando esclarecimento”, afirmou Ribeiro.

Amauri declarou ainda que não consegue contato com o secretário nem por telefone e que, embora seja da base governista, tem questionamentos a fazer: “Eu sou base, mas não vou me calar no que eu vejo e no que me parece que não está correto”.

Supostas irregularidades

Ainda durante a sessão ordinária da última segunda-feira, o deputado Gustavo Sebba (PSDB) também usou a tribuna para lamentar a atuação do secretário da Saúde, Rasível dos Santos, e a contratação da organização social (OS) responsável pelo Hospital Maternidade Therezinha de Jesus (HMTJ).

Sebba apontou que a missão do secretário “é difundir a OS por todo o estado, tendo firmado contrato de gestão da OS para a Policlínica de Goiás, o Hospital Estadual de Jaraguá, o Hospital Estadual de Águas Lindas, o Hospital Estadual de Itumbiara, o Hospital Estadual de Aparecida de Goiânia” e, de acordo com ele, está para conseguir o de Jataí.

E foi adiante: “São mais de R$ 50 milhões de contrato por mês e, desde sua contratação, vem burlando leis e fazendo maracutaias. Isso tudo graças ao secretário Rasível. Os diretores da HMTJ são réus em ação penal por corrupção, improbidade administrativa e formação de organização criminosa. Esse é o povo que esse secretário trouxe pra cá”.

Mais do mesmo 

A insatisfação dos deputados com o secretário não é recente, mas ganhou contornos mais graves no início deste ano, quando Rasível foi convidado a prestar contas sobre a situação da Saúde no Palácio Maguito Vilela, sede do Legislativo estadual. Conforme mostrado pelo O HOJE, na ocasião, ele deixou a reunião antes do previsto, alegando um “compromisso inadiável”. A justificativa não colou entre os parlamentares, que se sentiram desrespeitados pela falta de tempo para questionamentos.

A gota d’água para muitos parlamentares foi a percepção de que o secretário estava evitando o diálogo e agindo com indiferença em relação ao Parlamento. Tanto que o deputado Gustavo Sebba (PSDB) chegou a protocolar um requerimento para a criação de uma CPI da Saúde, com o objetivo de investigar não apenas a falta de remédios, mas também a relação do governo com as OS – entidades que, em tese, deveriam melhorar a eficiência da gestão hospitalar, mas que muitas vezes são alvo de suspeitas.

A proposta, no entanto, não deve avançar. O principal obstáculo foi justamente o líder do governo na Alego, Talles Barreto, que fez um movimento nos bastidores para convencer Sebba a recuar. Em declaração à imprensa, Talles admitiu ter pressionado o colega: “Conversei muito com o Gustavo para não montar essa CPI. Falei que o Rasível viria e não havia necessidade de criar esse clima aqui”.

Em contato com a reportagem do O HOJE, a Secretaria Estadual de Saúde informou, via nota, que “devido a compromissos de agenda assumidos anteriormente para a mesma data, o secretário Rasível Santos ficará impossibilitado de  participar da Audiência Pública da Comissão de Tributação e Finanças da Casa de Leis do Estado, agendada para esta terça-feira (15). A Pasta negocia uma nova data e horário para o cumprimento do referido compromisso”. 

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SAÚDE BUSINESS

Lucro recorde e desafios desiguais: a sustentabilidade da saúde suplementar em 2025

Operadoras, hospitais e prestadores vivenciam realidades financeiras diferentes, o que pode comprometer a saúde do sistema e dos pacientes.

A sustentabilidade no setor de saúde é um assunto sempre em pauta. Diante de um cenário de maior expectativa de vida, no qual as pessoas demandam mais cuidados de saúde, e de tecnologias cada vez mais caras, é natural que operadoras, hospitais e demais instituições de saúde encontrem dificuldades para se manter sustentáveis.  

No entanto, para os planos de saúde, o cenário parece menos sombrio. As empresas do setor registraram lucro líquido de R$ 11,1 bilhões em 2024, um aumento de 271% em comparação com 2023. Este resultado também é superior ao que foi obtido nos três anos anteriores somados. Por outro lado, hospitais e prestadores enfrentam dificuldades financeiras, com margens cada vez mais apertadas e desafios na negociação com planos de saúde.

De acordo com os dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), essa recuperação é resultado da reorganização financeira promovida especialmente pelas operadoras de grande porte, que têm reajustado as mensalidades em patamar superior à variação dos custos com as despesas assistenciais. Além disso, as aplicações financeiras também contribuíram para esses bons números.

Gustavo Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), explica que esses resultados são provenientes do empenho e resiliência das companhias e dos profissionais do setor. “Embora indiquem uma melhora em relação aos anos anteriores, os resultados seguem abaixo dos patamares pré-pandemia. Em 2024, as mais de 660 operadoras juntas apresentaram um resultado operacional de R$ 3,96 bilhões, com uma margem de apenas 1,32% sobre a receita total”, observa ele.

O executivo destaca ainda que a percepção de lucro desconsidera o fato de que 44,4% dessas operadoras, responsáveis pelo atendimento e cuidado de 15,2 milhões de beneficiários, fecharam o ano com resultados negativos. “Ainda há muitas barreiras a serem ultrapassadas para que se alcance um nível de sustentabilidade que gere mais tranquilidade e amplie o acesso à saúde pela população.”

A recuperação do setor pode beneficiar toda a cadeia?

Na opinião de Ribeiro, sim. “A recuperação do setor é fundamental para a sustentabilidade e o equilíbrio de todo o sistema suplementar de saúde. Segundo dados da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), as operadoras de planos de saúde são responsáveis por 80,6% das receitas dos hospitais e 74% das receitas dos laboratórios diagnósticos. Um sistema de saúde saudável é bom para todos, principalmente para a população, que pode contar e se beneficiar com o acesso a serviços de excelência no cuidado e atenção à própria saúde”, analisa Ribeiro.

Para Reginaldo Teófanes, presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), é importante reconhecer que o bom desempenho financeiro das operadoras é um sinal positivo para todo o setor de saúde suplementar. No entanto, para que esse ciclo virtuoso se complete, é essencial que os estabelecimentos de saúde também estejam financeiramente saudáveis.

“A sustentabilidade do sistema passa, necessariamente, por uma relação mais equilibrada e transparente entre operadoras e hospitais. Isso envolve, por exemplo, rever práticas como as glosas excessivas e pouco justificadas, que geram incertezas financeiras e operacionais aos prestadores. Aqui na FBH, a nossa expectativa é que possamos avançar para um modelo de corresponsabilidade, em que operadoras e hospitais caminhem lado a lado, compartilhando riscos, resultados e, principalmente, compromissos com a qualidade assistencial.”

Na opinião de Teófanes, o modelo vigente impõe desafios. Segundo o executivo, a assimetria de poder nas negociações, que hoje pende para as operadoras em detrimento dos estabelecimentos, somada à ausência de um agente regulador de mercado que promova maior equilíbrio entre os elos da cadeia, acaba por fragilizar os prestadores, que muitas vezes operam no limite da viabilidade.

“Ainda que exista o direito legítimo de auditar e glosar serviços quando há inconsistências, o que temos observado é uma banalização desse instrumento, utilizado de forma quase sistemática e, em muitos casos, sem fundamentação adequada. Isso gera instabilidade, imprevisibilidade e insegurança jurídica. A longo prazo, teremos comprometimento de investimentos e da própria permanência de muitos hospitais no mercado.”

Milva Pagano, diretora-executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), reforça a opinião de Teófanes ao compartilhar sua visão de que o modelo atual exerce uma pressão contínua e desproporcional sobre os prestadores, o que pode comprometer a manutenção da qualidade dos serviços oferecidos. “A sustentabilidade do setor depende de um redesenho nas relações, com uma visão mais integrada e colaborativa entre todos os agentes que compõem esse ecossistema.”

Recentemente, a Anahp realizou um evento para debater a recuperação expressiva das operadoras de planos de saúde no ano passado e o agravamento do desequilíbrio com os hospitais, principalmente por conta das glosas e dos prazos de pagamento alongados.

Antônio Britto, diretor-executivo da associação, diz que só haverá equilíbrio se a relação respeitar a necessidade de operadoras e hospitais serem saudáveis financeiramente. “O sistema de saúde suplementar não será sustentável se for bom para um só lado. Estamos falando aqui de um sistema onde os elos da cadeira conversam mal, e isso tem impedido que operadoras e hospitais discutam novas formas de trabalho.”

Segundo ele, quando os diversos atores se sentam à mesa, a discussão gira em torno do fator preço. “Nesse cenário, a conversa não tem futuro e o sistema não vai se ajustar e se recuperar. Temos que mudar o tom da conversa, pois a realidade é que hospitais e operadoras investem pouco na atividade que vai salvar o setor, que é a prevenção e a promoção da saúde. Não vemos iniciativas importantes de trabalho conjunto nesse sentido.”

Na avaliação de Charles Lopes, especialista em legislação de saúde suplementar e professor da Escola de Negócios de Seguros (ENS), alguns passos são importantes para a manutenção e garantia da saúde suplementar no Brasil, como a transparência nas negociações, estabelecendo-se um diálogo aberto sobre custos e reajustes; a adoção de modelos que remunerem pela qualidade e eficiência dos serviços, como o pagamento por performance; e a revisão periódica dos contratos para que estes reflitam mudanças nos custos e nas necessidades dos serviços.

Riscos do descompasso

Mas quais os riscos, para hospitais e prestadores, desse cenário onde apenas um dos lados parece em vantagem? “Os sinais de alerta estão acesos há um bom tempo. A FBH, em parceria com a CNSaúde, publica anualmente o ‘Cenário dos Hospitais no Brasil’, estudo que traz dados atualizados sobre aberturas e fechamentos de estabelecimentos e leitos da rede privada e filantrópica. O estudo mostra que o país conta atualmente com menos hospitais e menos leitos do que tinha em 2010, há 15 anos”, destaca Teófanes.

Diz ele ainda que esse encolhimento se reflete em uma crise financeira que abala, sobretudo, os hospitais de pequeno e médio portes, que representam 70% de toda a rede hospitalar brasileira e que são, em muitos municípios, a única opção de assistência à população.

“Quando parte significativa dos recursos que deveriam ser repassados aos hospitais é retida, compromete-se a capacidade dessas instituições de manter e melhorar sua estrutura, investir em inovação e contratar profissionais qualificados. O risco não é apenas para os hospitais, mas para toda a cadeia”, diz Teófanes.

O executivo lembra que as operadoras dependem de uma rede prestadora forte e bem estruturada para ampliar sua base de clientes e oferecer serviços de excelência. “Portanto, quando os hospitais sofrem, todo o sistema sente. O que se coloca em jogo não é apenas a saúde financeira das instituições, mas a qualidade do cuidado oferecido aos pacientes.”

Na avaliação de Britto, os riscos desse descompasso já estão mostrando sua face. O primeiro deles está na estagnação do setor de saúde suplementar, que não registra aumento no número de beneficiários desde 2014 – atualmente, são cerca de 52 milhões de usuários.

“O segundo risco também já é real. Hoje, o sistema desperta uma unanimidade irônica: todos se queixam dele – operadoras, hospitais, pacientes, médicos. O que mais precisa acontecer para que percebamos que o sistema é que está com problemas, e que não adianta um dos atores que o compõe buscar uma saída isolada? Ou reformamos a maneira como o sistema funciona hoje, ou ele será ruim para todos. Em 2024, 41% dos investimentos que estavam previstos pelos hospitais não foram realizados porque eles não conseguem receber das operadoras.”

Teófanes destaca que os hospitais brasileiros têm demonstrado uma notável capacidade de resiliência, mesmo diante de restrições orçamentárias, da alta carga tributária, além dos atrasos nos repasses. Muitos, segundo ele, se esforçam para investir em tecnologia, capacitação de equipes e expansão da infraestrutura.

“No entanto, essa adaptação, em muitos casos, tem sido feita à custa de sacrifícios significativos, como postergação de investimentos ou redução de leitos. Essa não é uma situação sustentável.”

Para Milva, esse desequilíbrio entre os resultados das operadoras e dos hospitais e prestadores pode afetar diretamente a rede oferecida pelos planos de saúde aos beneficiários, comprometendo a qualidade da assistência, o acesso e os diferenciais do atendimento. “Quando não há alinhamento entre operadoras e prestadores, o impacto se espalha por toda a cadeia – e, no centro dela, está o paciente. Sem um esforço conjunto para reequilibrar esse cenário, os efeitos serão sentidos a médio e longo prazo.”

Propostas regulatórias da ANS têm sido debatidas como um possível caminho

A ANS tem proposto alguns caminhos visando à sustentabilidade do setor, como mudanças no sistema de coparticipação, criação de planos que ofereçam apenas consultas e exames, entre outros. Mas até que ponto essas propostas podem efetivamente beneficiar a todos?

Britto diz que a Anahp apoia propostas que fortaleçam o sistema de saúde suplementar e a saúde financeira das operadoras, no entanto, muitas empresas do setor não têm visto com bons olhos a questão de criação de planos ambulatoriais, por exemplo.

Em relação às outras propostas, ele acredita que elas precisam ser melhor esclarecidas. “É preciso que haja uma solução para planos individuais que se tornaram inviáveis e que exista um entendimento sobre formas de coparticipação. O debate está apenas começando. Temos que abrir uma discussão ampla e profunda sobre o que está sendo proposto, mantendo o olhar em uma saída que seja positiva para o setor como um todo.”

Para o presidente da FBH, propostas regulatórias que promovam maior transparência, previsibilidade nos contratos e mecanismos efetivos de resolução de conflitos são fundamentais para o amadurecimento da relação entre operadoras e prestadores.

“Esperamos, por exemplo, que se avance em normas que estabeleçam critérios objetivos e auditáveis para as glosas, bem como instâncias de recurso que realmente funcionem. Além disso, é preciso discutir formas de redistribuir de maneira mais equitativa os resultados positivos do setor. Se queremos um sistema sustentável e centrado no paciente, é indispensável que todos os elos — operadoras, hospitais, profissionais e fornecedores — estejam alinhados e valorizados.”

Milva vê com otimismo as propostas, acreditando que elas podem contribuir para ampliar o acesso, o que tende a atrair mais beneficiários para dentro do sistema e, com isso, gerar maior volume de recursos.

“No entanto, é essencial que essas mudanças sejam acompanhadas de discussões técnicas consistentes e de um olhar atento à qualidade da assistência e à segurança do paciente. A regulação tem papel fundamental nesse processo de reequilíbrio, desde que venha acompanhada de diálogo com todos os setores envolvidos.”

Lopes, da ENS, faz uma avaliação de algumas das propostas e pontua suas considerações:

Novo modelo de reajuste para contratos de até mil vidas: pode proporcionar maior estabilidade e previsibilidade nos reajustes, beneficiando operadoras e prestadores. No entanto, pode haver perda de informações detalhadas.

Regras para coparticipação: definir limites financeiros pode ajudar a controlar os custos para os beneficiários e evitar abusos.

Reativação dos planos individuais com reajuste mais flexível: pode aumentar a competitividade e oferecer mais opções aos consumidores, mas exige renúncia a algumas conquistas.

Criação de um plano ambulatorial sem urgência e emergência: pode reduzir os custos para os beneficiários e aliviar a pressão sobre os hospitais, mas pode criar um produto com menos proteção.

“Essas medidas têm o potencial de equilibrar o ecossistema de saúde suplementar, promovendo a sustentabilidade financeira, mas certamente reduzirão a qualidade dos serviços oferecidos”, comenta o especialista.

Conquistar a sustentabilidade na saúde suplementar é um desafio complexo, mas possível de ser alcançado com ações coordenadas, inovação e foco na eficiência e qualidade do cuidado. O caminho parece estar na conversa e no entendimento entre todos os que fazem parte dessa cadeia.

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Assessoria de Comunicação