Postado em: 21/03/2022

CLIPPING AHPACEG 19 A 21/03/22

ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.

DESTAQUES

Setor de saúde soma R$ 20 bi em transações e é foco de investidores

Plano de saúde está entre as três maiores necessidades do brasileiro

Inclusão é tema do Dia Mundial da Síndrome de Down

UFG desenvolve controle biológico do mosquito transmissor da dengue

“Hoje temos mais do que provas de que a vacina é efetiva na prevenção a óbitos”

Câmara deve votar piso salarial de enfermagem nas próximas semanas; entenda o projeto

Maior estudo sobre ivermectina mostra ineficácia do remédio na redução de hospitalizações por Covid-19

Momento ideal para a cirurgia bariátrica

SAÚDE BUSINESS

Setor de saúde soma R$ 20 bi em transações e é foco de investidores

Nos dois últimos anos marcados pela pandemia, o setor de saúde ganhou destaque e importância também no mercado financeiro: o setor liderou o ranking de fusões e aquisições e reuniu as maiores operações de compra de empresas no Brasil – a mais recente, a compra da SulAmérica pela Rede D’or. Do início de 2021 até agora, foram cerca de 150 transações, que movimentaram mais de R$ 20 bilhões.

Outro área do setor que vem atraindo investimentos é o das healthtechs. Em 2021, só no Brasil, foram mais de US$ 530 milhões investidos, mais que o dobro em relação a 2020, segundo report da Distrito. No mundo todo, outro recorde – os investimentos somaram US$ 621 bilhões, de acordo com a CB Insights. Uma dessas empresas que recebeu aporte no período foi a Suprevida, marketplace que conecta pacientes de todo o Brasil a fornecedores de produtos, serviços e informações de saúde. “O ano de 2021 foi de grandes desafios e evoluções no setor. Um período no qual a pandemia continuou a moldar o comportamento dos consumidores, pacientes e cuidadores, que buscaram ampliar e qualificar suas rotinas de cuidados em casa. Em 2022, veremos o amadurecimento das startups desse setor, que precisam agora se consolidar no mercado”, afirma Rodrigo Correia da Silva, CEO e fundador da Suprevida.

Com os R$ 4 milhões levantados na rodada, finalizada em novembro de 2021, a startup - uma das 10 apostas da Distrito para 2022 - vem ampliando seus serviços e rede para os vendedores, aumentando a divulgação para os compradores, além de melhorias da plataforma de sustentação do ecossistema e testes para inovação e geração de valor para o público. Tudo isso para ampliar o acesso à saúde, cuidado e bem-estar; e o empoderamento dos consumidores de todo o Brasil no autocuidado domiciliar. A empresa fechou 2021 com alta de 175% em GMV e de 59% em acessos ao site, alcançando mais de 1,4 mi de visitantes.

A pandemia potencializou o e-commerce de saúde, transformando os sites de vendas de produtos em verdadeiros hubs. E os números de janeiro confirmam que a boa fase de investimentos segue em 2022: segundo a Distrito, as healthtechs foram o quinto setor de startups que mais receberam investimentos em janeiro desse ano, com US$ 10,9 milhões investidos. “As healthtechs estarão no foco dos investidores este ano, pois provamos que é possível ser uma empresa da área de saúde com rentabilidade mesmo diante das dificuldades do setor, que é extremamente regularizado”, finaliza o CEO.

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Plano de saúde está entre as três maiores necessidades do brasileiro

Divulgação

O Brasil tem mais de 49 milhões de pessoas vinculadas a algum tipo de convênio médico. Esse dado, divulgado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em janeiro deste ano, confirma o interesse dos brasileiros no acesso à saúde suplementar. Desde novembro de 2021, vem aumentando o número de beneficiários que procuram esse tipo de serviço. E ainda segundo a ANS, a taxa de adesão aos convênios (entradas), considerando todos os tipos de contratações, continua sendo superior à taxa de cancelamento (saídas) nos planos médicos hospitalares. Tais números refletem um novo perfil das famílias brasileiras, conforme divulga o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) em pesquisa realizada pela Vox Populi em julho do ano passado: com a pandemia, as pessoas mudaram suas prioridades e a saúde passou a ser ainda mais fundamental.

Além de estabilidade e conforto, ter a quem recorrer quando houver um problema de saúde também ganhou muito mais importância em meio à Covid-19. O plano de saúde está entre um dos três maiores desejos do brasileiro, ficando atrás apenas da casa própria e da educação. Entre os principais motivos que levam alguém a procurar por um plano de saúde estão a segurança de ser atendido em caso de urgência e poder contar com uma rede de médicos para fazer os acompanhamentos necessários em caso de doenças, inclusive via telemedicina. Além disso, a confiança em comprar um plano consistente e sólido passou a ser uma premissa, levantando a importância de saber bem com qual corretora comprar.

De acordo com a pesquisa do IESS, mais da metade dos brasileiros sem planos de saúde afirmam que se sentiriam mais seguros frente à pandemia se pudessem contar com o benefício. Entre os pesquisados não beneficiários de planos de saúde, 58% dizem que estariam mais seguros tendo um plano de saúde neste momento. Na população entrevistada, apenas 15% dos não beneficiários que sentiram sintomas procuraram o atendimento médico, número inferior aos que possuem plano, com 22%, relata a pesquisa.

Mudança na forma de atender

O crescimento da busca por planos de saúde registrado nos últimos anos fez com que as empresas que comercializam esse tipo de serviço mudassem o olhar sobre o modelo de negócios e apostassem em um atendimento mais humanizado e personalizado, como é o caso da Servplan Saúde. Recém-inaugurada em Sorocaba e já com uma carteira de mais de 90 mil beneficiários, a corretora de planos de saúde é exemplo dessa renovação, ao procurar atender seus clientes com soluções sob medida e pós-atendimento de excelência.

A empresa investiu alto em atendimento consultivo e focado no cliente, seja ele pessoa física ou jurídica. Uma equipe de consultores de planos de saúde conhece a fundo a história de cada beneficiário, indicando a melhor solução de forma individualizada.

Na carteira da corretora, estão empresas de todos os portes que aderiram a convênios médicos sem a restrição de um número mínimo de funcionários para fechar o negócio ou necessidade de CNPJ, pois entende esse momento em que muitos trabalhadores não estão formalizados.

“Desde o pequeno empreendedor até a empresa com dezenas de colaboradores, temos soluções que atenderão ao que é mais prioritário no momento: o acesso à saúde de qualidade, onde e quando precisar, independente do estilo de vida. É nisso que acreditamos”, explica Amauri Japonesi, diretor da Servplan Saúde.

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AGÊNCIA BRASIL

Inclusão é tema do Dia Mundial da Síndrome de Down

“O que significa a inclusão?” é o tema escolhido este ano pela organização Down Syndrome International (DSI), do Reino Unido, para marcar o Dia Mundial da Síndrome de Down, comemorado hoje (21). A data foi criada pela instituição em 2006, com o objetivo de celebrar a vida das pessoas com a síndrome e garantir que elas tenham as mesmas liberdades e oportunidades das demais.

Neste dia, os portadores da síndrome e aqueles que vivem e trabalham com eles em todo o mundo organizam e participam de atividades para aumentar a conscientização pública e defender os direitos, inclusão e bem-estar dessas pessoas. A data foi escolhida em alusão à presença de três cópias do cromossomo 21 nas pessoas com a síndrome, em vez de duas, existentes nas demais.

Isso significa que a síndrome de Down é gerada pela presença de uma terceira cópia do cromossomo 21 em todas as células do organismo, o que ocorre no momento da concepção. Cromossomos são estruturas biológicas que contêm a informação genética. As pessoas com síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21, têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da população. Trissomia significa, portanto, a existência de um cromossomo extra.

A alteração genética conhecida como síndrome de Down está presente na espécie humana desde sua origem. Foi descrita assim há 150 anos, quando o médico inglês John Langdon Down se referiu a ela pela primeira vez como um quadro clínico com identidade própria, em 1866. Em 1958, o francês Jérôme Lejeune e a inglesa Pat Jacobs descobriram, de maneira independente, a origem cromossômica da síndrome. Foi quando ela passou a ser considerada síndrome genética.

Genética

A neurologista pediátrica Karly Lagreca, pós-graduada em autismo e psiquiatria infantil, disse que o comportamento dos pais não causa a síndrome de Down. “É uma condição genética. Se houver o aconselhamento genético, os pais podem saber a chance de gerar um segundo filho portador da síndrome”. Ela explicou que, ao ter o primeiro filho, o casal pode estudar a genética dele para ver se a síndrome pode ser herdada.

A médica alertou que a síndrome de Down não é uma doença e nem deve ser tratada como tal. “Devemos apenas saber os cuidados mais necessários para oferecer a essas crianças e adultos fisioterapia para fortalecer o tônus e a investigação de doenças no coração e na tireoide, por exemplo”. Apesar de apresentarem, em sua maioria, deficiência intelectual de gravidade variável, os portadores podem ter vida normal, estudar, trabalhar, casar, ter filhos, afirmou a médica. Para isso, garantiu que “o grau da deficiência, a quantidade de terapias e estimulação recebidas ao longo da vida e o suporte familiar e social serão fundamentais”.

Conscientização

O Dia Mundial da Síndrome de Down visa a conscientizar a sociedade global sobre essa alteração genética que acomete uma em cada 700 crianças nascidas vivas no Brasil. Em termos mundiais, a incidência estimada é de uma em mil nascidas vivos, o que sinaliza que, a cada ano, cerca de 3 mil a 5 mil crianças nascem com síndrome de Down. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que cerca de 300 mil pessoas têm síndrome de Down no país. De modo geral, os portadores apresentam olhos amendoados, rosto arredondado, além de alguns problemas, como cardiopatia congênita e deficiência intelectual de gravidade variável.

A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (Fbasd), associada à Down Syndrome International, está exibindo em suas redes sociais, em alusão à data, lives (transmissões ao vivo na internet) e vídeos mostrando o que é inclusão no entendimento dos jovens com trissomia 21. Os vídeos foram feitos com portadores da síndrome no Brasil e na Espanha, por meio da Federação Iberoamericana de Síndrome de Down (Fiadown), com tradução para o português.

“É um tema muito importante para que as pessoas possam ter interpretação correta da própria Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU)”, disse o presidente da FBASD, Antonio Sestaro.

Um desses jovens é Bruno Ribeiro, do Recife, que faz parte do Grupo Nacional de Autodefensoria da FBASD. Para Bruno, inclusão significa “reconhecimento de capacidades, garantia de direitos, respeito, igualdade de oportunidades, amor”.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), da ONU, estabelece a “participação e inclusão plena e efetiva na sociedade” de todos os portadores de deficiência e das pessoas com síndrome de Down. A realidade, porém, mostra que essas pessoas ainda hoje não se beneficiam de uma participação e inclusão plenas na sociedade.

Invisibilidade

Antonio Sestaro informou que algumas filiadas da federação vão realizar hoje (21) caminhadas para chamar a atenção da população sobre o papel das pessoas com síndrome de Down como cidadãos. “E sair da invisibilidade. Esse é um dos principais objetivos do dia”, destacou.

“O mundo todo se une neste dia para poder fazer a divulgação do que é a síndrome, dos avanços, da educação inclusiva, que é uma bandeira da federação e, mais do que isso, o respeito à Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência. A sociedade precisa quebrar barreiras para que possam ter espaço na sociedade”, afirmou Sestaro.

O presidente da FBASD lembrou que ainda há muito preconceito, não só no Brasil, mas no mundo, em relação às pessoas com síndrome de Down. “Mas avançamos muito. Nos últimos 30 anos, principalmente depois da Convenção da ONU, e mais recentemente, a partir de uma educação que permite que as crianças com Down estejam junto com as demais, a sociedade avançou”.

No último dia 4 de março, foi publicada no Diário Oficial da União a Lei 377/2011, que institui o Dia Nacional da Síndrome de Down. A data já constava na agenda da ONU desde 2006, mas ainda não fazia parte do calendário brasileiro.

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JORNAL OPÇÃO

UFG desenvolve controle biológico do mosquito transmissor da dengue

Por Rafaela Ferreira

Estudo produz um sistema onde o mosquito é atraído para um dispositivo por causa da semelhança com um criadouro ou local de descanso

Em meio ao surto de doenças provocadas pelo Aedes aegypti, um método para o controle biológico do mosquito, que é o principal transmissor dos vírus da dengue, zika e chikungunya, foi desenvolvido por um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG). A descoberta pode ajudar a conter o avanço da dengue este ano. Só na Capital goiana, frente ao ano passado, houve aumento de mais de 925% nos casos de dengue, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, e há pelo menos dois óbitos confirmados.

Por meio do método criado pela UFG, o mosquito é atraído para um dispositivo semelhante a um criadouro ou local de descanso. A ideia da universidade é deixar esse dispositivo em toda área onde há presença de mosquito, em um raio de até 50 metros em torno de um domicílio. No estudo, realizado no Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (LPI/IPTSP), foram desenvolvidas formulações granulares que carregam conídios e microescleródios do fungo Metarhizium humberi. Isto é, estruturas resistentes com reservas nutritivas que produzem novos conídios deste fungo, que é capaz de infectar e  causar a morte de adultos, larvas e ovos do Aedes. No dispositivo desenvolvido, o mosquito terá contato com o tecido que contém grânulos com fungo. Nesses grânulos, há microescleródios que, em ambientes com umidade elevada, produzem conídios, que são infectantes para os mosquitos. “A formulação é aplicada dentro dos dispositivos, que não são armadilhas, pois os mosquitos não ficam presos: entram, ficam contaminados e saem”, explica o pesquisador Wolf Christian Luz, professor que liderou o grupo de pesquisa.

O objetivo dos estudos em andamento é melhorar a atividade do fungo através de métodos de produção, formulação e aplicação de fungos para controle do Aedes aegypti. O Metarhizium humberi é uma espécie nova e foi isolado pela primeira vez em 2001 pelo grupo liderado pelo professor Christian a partir de amostras de solo coletadas no Cerrado. “A linhagem Metarhizium humberi IP 46 utilizada na nossa pesquisa já foi estudada intensamente em Aedes aegypti em condições de laboratório e apresenta atividade inseticida em ovos, larvas e adultos desse vetor”, disse o professor.

Os dados da pesquisa demonstram a importância da umidade relativa do ar para a produção de conídios sobre os grânulos.  A eficácia da formulação granulada para controle biológico de Aedes aegypti fazem parte de artigos publicados em 2021 na revista Applied Microbiology and Biotechnology. O pesquisador explica que os microescleródios precisam de condições de umidade elevada para produzir micélio e conídios na superfície dos grânulos. O estudo sobre o efeito da umidade no desenvolvimento de Metarhizium humberi nos grânulos e pellets foi uma etapa importante do processo, ressalta o pesquisador. Sem esses conídios, a formulação preparada com microescleródios não afeta os mosquitos. 

Até o momento, já foram realizadas três etapas da pesquisa: estudos in vitro com preparações diferentes de formulação granulada para melhoramento da produção de conídios sobre os grânulos ou pellets após a aplicação; estudos em condições de laboratório com adultos de Aedes aegypti; e estudos em condições de semi-campo e de campo com um dispositivo protótipo e grânulos para controle de Aedes aegypti.  Os experimentos foram realizados em laboratório sob condições controladas, mas o professor já vislumbra bons resultados nas próximas etapas da pesquisa. Após testes em semi-campo e de campo com um dispositivo, os resultados forma promissores, finaliza o professor.

Na UFG, os estudos são concentrados no LPI/IPTSP em colaboração com o Laboratório de Nanosistemas e Dispositivos de Liberação de Fármacos (NanoSYS) da Faculdade de Farmácia. A participação de estudantes de graduação e de pós-graduação esteve envolvida durante todo o processo. O projeto, que foi apoiado na Chamada MCTI-CNPq/ MEC-CAPES/ MS-Decit Nº 14/2016, Prevenção e Combate ao vírus zika, conta ainda com a colaboração de um pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e de um pesquisador do Robert W Holley Center for Agriculture and Health, USDA, EUA. Os dois contribuíram em discussões durante a elaboração e execução do projeto.

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Entrevista | Flúvia Amorim

“Hoje temos mais do que provas de que a vacina é efetiva na prevenção a óbitos”

Por Elder Dias

Superintendente de Vigilância em Saúde endossa a liberação da obrigatoriedade de máscaras, mas ressalta preocupação com cobertura vacinal, especialmente de crianças

Uma das figuras mais presentes com sua imagem nas TVs e sua voz nas emissoras de rádio em Goiás durante os dois anos de pandemia de Covid-19 em Goiás, com certeza, foi Fluvia Amorim. A primeira enfermeira a ocupar a Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa) da Secretaria do Estado de Saúde (SES-GO) sempre foi prestativa e, melhor, objetiva e transparente em relação ao que ocorria na grande força-tarefa que é o combate ao coronavírus.

Formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), onde também cursou mestrado no Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, ela tem ainda uma especialização em Epidemiologia para Gestores, na Johns Hopkins University (EUA). Nesta entrevista ao Jornal Opção, concedida de forma remota em meio às muitas demandas de sua competência, Fluvia celebra o momento tranquilo, senão para ela, pelo menos para o quadro sanitário no Estado e compara a atual conjuntura ao trágico começo do ano passado: “Hoje estamos com apenas uma solicitação para UTI de Covid-19. Na pior fase, chegamos a ficar perto de mil pedidos diários.”

Tecnicamente, foi o momento correto para começar a liberação da obrigatoriedade de máscaras?

Na verdade, desde o ano passado alguns Estados já começaram a discussão sobre a desobrigação do uso de máscaras. Alguns municípios goianos também chegaram a falar nisso, o que fez com que a questão fosse levada para uma reunião de gestores, para a gente demonstrar que aquele ainda não era o momento, que, para acontecer, deveria haver uma cobertura vacinal maior. Então, já havíamos falando que essa liberação só poderia ocorrer com uma maior porcentagem de vacinação da população.

O que a gente vê agora é que, sim, este é um momento em que se torna possível, de acordo com o cenário epidemiológico. Em nossa nota de recomendação, seguimos a orientação da própria OMS [Organização Mundial de Saúde] e das sociedades científicas, que falam que esse processo deve ser feito de forma gradual. Claro, sabemos que todos estão ávidos para voltar à vida como era no período pré-pandemia. No entanto, tudo isso precisa ser feito com muita cautela, com responsabilidade, de maneira gradativa. A gente acredita que, se não houver nenhuma mudança neste cenário epidemiológico, principalmente em relação a variantes – isto é, sem haver o surgimento de novas variantes, mais virulentas ou mais transmissíveis que as já conhecidas –, viveremos um novo momento de discussão, que é saber como ficaremos pós-pandemia, quais medidas serão adotadas, quais os gatilhos para serem acionados em caso de volta de aumento da gravidade.

Ou seja, já começamos a planejar um cenário novo, mas é bom ressaltar: a pandemia não acabou, ainda. Digo isso porque já houve boatos de que o Brasil poderia decretar o fim da pandemia, só que nenhum país tem competência para isso, que é uma prerrogativa única da Organização Mundial de Saúde, de acordo com o regulamento sanitário internacional, do qual, inclusive, o Brasil faz parte.

Se o Brasil tivesse tido uma política pública efetiva voltada para o acesso a máscaras eficientes – como as PFF2 –, principalmente para seu uso no transporte coletivo e em locais de trabalho em ambientes fechados, teríamos outro cenário em número de casos graves e óbitos? Como a sra. observa essa questão?

Nesta pandemia, até hoje não me contaminei, apesar do trabalho intenso e frequentemente tendo de ser em reuniões, com muitas pessoas e pouca ventilação. Pessoalmente, sempre procurei usar máscaras adequadas e isso foi fundamental principalmente nesta onda da variante ômicron, que tem transmissibilidade muito maior. O uso da máscara é um legado que espero que fique. Claro que as pessoas não vão precisar usar PFF2 o tempo inteiro, quando passar totalmente esta onda e mais termos o alcance da cobertura vacinal por todos. Mas, veja: mesmo estando vacinado, caso você esteja com sintomas, ou tossindo, espirrando, não custa nada, coloque a máscara. Você vai estar protegendo quem está do seu lado – e isso não se refere apenas à Covid-19. Fico feliz em ver como os dados de ocorrência de meningite nos últimos anos despencaram, por exemplo.

E isso tem mesmo a ver com o uso da máscara?

Tem a ver com a máscara, também com o distanciamento físico, com a higienização das mãos. Todas as doenças transmitidas de pessoa para pessoa tiveram uma redução radical nos anos de 2020 e 2021. Provavelmente neste ano vamos ver alguma subida nesses índices, mas isso é esperado.

“Espero estar errada, mas pelo que vivemos com o pós-pandemia de H1N1, o mais provável é que essas medidas preventivas infelizmente caiam no esquecimento”

O uso da máscara facial nas ruas e, principalmente, no transporte coletivo é um costume em muitos países asiáticos, mas parece algo distante de nosso cotidiano por aqui. As pessoas parecem que querem se ver livres de vez da proteção. É algo, obviamente, cultural, mas até que ponto a sra. espera que isso fique de forma permanente? Em cinco ou dez anos, a população estará usando máscara no ônibus, por exemplo?

Sinceramente, penso que não (risos). Eu me recordo do que vivemos durante a chamada gripe suína, a H1N1, em 2009. Foi também uma pandemia, embora longe da magnitude que ocorreu com o coronavírus. Naquela época, a gente via álcool gel em shoppings, lojas etc. As pessoas andavam com o produto na bolsa. Passaram-se dois anos depois e nada ficou daquilo. Mesmo a etiqueta respiratória – de tossir ou espirrar tapando a boca e o nariz com o lenço, com uma blusa ou mesmo com o cotovelo – não virou hábito. Espero estar errada, mas pelo que vivemos com o pós-pandemia de H1N1, o mais provável é que essas medidas preventivas infelizmente caiam no esquecimento.

Ainda tem outro fator importante sobre a questão da máscara durante a pandemia, que foi a disputa ideológica. Usar ou não a proteção virou um cavalo de batalha em questão política. A atitude de colocar ou não uma máscara se tornou, frequentemente, algo “de esquerda” ou “de direita”. Isso chegou a prejudicar o trabalho da Saúde?

Eu digo que essa polarização ocorreu no pior momento que a gente poderia imaginar. Era uma situação para a qual precisávamos de união, de consenso, principalmente da alta gestão federal. Na circunstância em que mais seria necessária uma voz firme falando o que seria correto fazer, ela não apareceu, não a tivemos – pelo contrário, tivemos uma polarização também nos protocolos de biossegurança da Covid-19. E virou isto mesmo: se usar máscara, é de esquerda, se não usa, é de direita; se aglomera, é de direita, se não aglomera, é de esquerda. Uma coisa louca. Durante a pandemia de H1N1, isso não aconteceu, então, foi algo muito ruim e que ainda vai continuar nos prejudicando.

Na campanha de vacinação também ocorreu o mesmo fenômeno, infelizmente. O curioso é que a boa tradição vacinal brasileira se deve ao período militar, ao combate da meningite na década de 70 – claro, tivemos lá no início do século passado a figura de Oswaldo Cruz [sanitarista que ocupou cargo equivalente ao de ministro da Saúde entre 1903 e 1909, promovendo uma melhora considerável da questão sanitária no Rio de Janeiro e a erradicação de várias doenças transmissíveis]. Uma das esperanças que tínhamos na pandemia era de que, com a estrutura e a capilaridade do SUS, pudéssemos então fazer um bom trabalho. Como foi trabalhar nesse cenário?

O SUS, de qualquer forma, nos ajudou. Se considerarmos a questão da velocidade de vacinação, comparando aos Estados Unidos, por exemplo, chegamos às coberturas vacinais mais rapidamente do que eles. Poderia ter sido ainda mais ágil? Poderia, sim. Poderíamos ter começado antes? Poderíamos. Se a gente tivesse uma quantidade maior de doses no início de 2021, teríamos alcançado a cobertura vacinal de forma muito mais veloz. Digo isso porque, pela experiência, vemos que o brasileiro funciona em ondas: se vem, então, a onda do medo, todo mundo vai para o posto de saúde, vão brigar por conta de vacina, por lugar na fila, há até casos de falsificação de documento para conseguir prioridade. Mas veja agora: um ano depois estamos praticamente correndo atrás das pessoas para que elas se vacinem. Isso porque ocorreu uma série de fatores: os casos diminuíram, as pessoas estão mais tranquilas com isso e também houve uma proliferação de fake news contra as vacinas, o que deixou outras pessoas com medo. Assim, muitos não procuram mais a imunização.

A preocupação agora é com as crianças, já que essa acomodação vem justamente no momento em que elas deveriam ser imunizadas?

É uma preocupação sobre a qual estamos falando desde o começo desse processo: o Estado de Goiás está entre os de pior cobertura vacinal de crianças. E não falo isso por conta de alguma competição de números com outras unidades federativas, não é isso. Com um índice grande de crianças não protegidas, a gente corre o risco de, num futuro próximo, uma proporção maior de casos graves e óbitos nessa faixa etária.

“O vírus não será erradicado, vai continuar circulando, então o que nos preocupa são as ocorrências sérias. Se isso a gente conseguir controlar, mesmo que haja um aumento de transmissão, não tendo também um aumento de pressão dos serviços de saúde, fica tudo bem. O problema é que ainda temos municípios com cobertura vacinal baixa”

Como está a situação da pandemia em Goiás? Há, entre as microrregiões, alguma em que a preocupação ainda precisa ser mais severa ou, pelo contrário, uma outra que a condição seja bem mais tranquila?

Com a variante ômicron, por sua velocidade de dispersão absurda, houve uma afetação de praticamente ao mesmo tempo de todos os municípios, diferentemente das ondas anteriores que começavam pelas regiões metropolitanas e municípios maiores. Com isso, o cenário ficou praticamente o mesmo no Estado todo, não houve grande variação. Dessa forma, pudemos fazer uma nota de recomendação para Goiás como um todo. O que colocamos como critério foi a cobertura vacinal, porque hoje temos mais do que provas de que a imunização pela vacina é efetiva na prevenção a casos graves e a óbitos. O vírus não será erradicado, vai continuar circulando, então o que nos preocupa são as ocorrências sérias. Se isso a gente conseguir controlar, mesmo que haja um aumento de transmissão, não tendo também um aumento de pressão dos serviços de saúde, fica tudo bem, seguimos com protocolos semelhantes ao que tivemos com a H1N1. O problema é que ainda temos municípios com cobertura vacinal baixa. Por isso, caso haja um aumento de casos naquele determinado município, esse índice insuficiente pode significar também aumento de casos graves e óbitos também.

Por parte da Secretaria Estadual de Saúde, está sendo feito um trabalho específico para essas localidades com menor cobertura vacinal?

Dentro do que estabelece o SUS [Sistema Único de Saúde], os municípios são os executores e têm autonomia para determinar estratégias. O que estamos fazendo, como secretaria, são reuniões com os gestores, principalmente com nesses municípios em que a gente observa mais problemas nesse sentido, fazendo recomendações. Nesta semana, fizemos uma reunião com técnicos de municípios e o conselho de secretários municipais, alertando para aquelas cidades que estão deixando apenas uma sala de vacinação funcionando, ou só meio período, ou só duas vezes por semana. Isso foi muito discutido, porque, se o acesso é dificultado, vamos ter também muita dificuldade para chegar à cobertura vacinal necessária. Então, precisamos facilitar o acesso principalmente naqueles municípios em que essa cobertura está baixa.

Outro ponto, que foi colocado pelos municípios, é que, à medida que vai sendo reduzido o número de não vacinados, isso se torna uma tarefa como a de procurar agulha no palheiro, fica realmente mais trabalhoso. É preciso, então, fazer rastreamento, monitorar, proceder a tentativa de convencimento, porque realmente há muitos que não querem se vacinar. Hoje, Goiás está praticamente 69% de toda sua população com esquema primário completo – duas doses ou uma dose única, no caso da Janssen – ou 73,6% da população do Estado como um todo que é elegível para vacinação, com 5 anos ou mais. O mínimo que desejamos é ter 75% desse contingente. Não é um número mágico, é baseado em estudos.

Por um lado, temos, felizmente, municípios chegando a 100% de cobertura entre os elegíveis. Há 23 municípios goianos com mais de 90% de vacinados. Na maioria, são municípios bem pequenos, onde todo mundo conhece todo mundo e é mais fácil convencer as pessoas e se sabe quem foi vacinado e quem não foi. Por outro lado, há aqueles que estão com cobertura vacinal de 60% ou pouco mais. É muito baixo. Nessas localidades, ainda é muito arriscado deixar de usar máscara.

Como está Goiânia nesse índice de cobertura vacinal? E a região metropolitana como um todo?

Segundo os dados oficiais, Goiânia já está com mais de 75% de vacinados entre os elegíveis. Aparecida de Goiânia ainda não está, segundo esses dados, geralmente os gestores dessas cidades justificam dizendo que os registros ainda não foram digitados. Pelos dados, Aparecida tem hoje 70% de cobertura vacinal. Pode ser que, realmente, haja dados ainda não registrados que façam alcançar o índice de 75%. De qualquer forma, cada município tem autonomia para liberar o uso de máscaras, o que a Secretária de Saúde faz é uma recomendação.

No meio do caos da pandemia, a variante ômicron foi uma experiência bem particular para os profissionais de saúde: surgiu rapidamente e parece estar indo embora da mesma forma. Foi uma de casos bem maior, mas bem menos cruel do que as anteriores. Qual foi a pior das ondas para Goiás?

Realmente, a ômicron foi um caso bem diferente. A onda mais cruel por que passamos foi mesmo a provocada pela variante gama, no início do ano passado. Foi o pior momento que vivemos, não só para Goiás, mas no Brasil inteiro. Quando a delta chegou, já tínhamos a vacina e pudemos controlar melhor a situação.

Em algum momento, no percurso da pandemia, chegou a bater a sensação de que o quadro estava fugindo do controle?

O momento mais crítico foi justamente a segunda onda, que veio com a variante gama, mais especificamente no final de fevereiro e começo de março de 2021. Naqueles dias, tivemos a maior quantidade de óbitos no Estado. Para ter ideia, vou pegar os dados de hoje [quarta-feira, 16/3]: estamos com apenas uma solicitação para UTI para Covid-19, um leito adulto. Na pior fase da segunda onda, com a variante gama, chegamos a ficar perto de mil pedidos de UTI por dia. Foi realmente um período extremamente difícil.

O quadro era terrível tanto para a rede pública como para a rede privada. Chegamos a ter falta de medicamentos para intubar pacientes. Receamos que houvesse também o quadro desesperador de Manaus, onde acabou até o oxigênio para os hospitais, o que nos serviu de alerta e felizmente isso não aconteceu aqui – hoje, por conta daquela situação, vários hospitais estaduais têm usina de oxigênio como legado, porque vimos que, para certas situações, não podemos depender só de indústria.

A situação de pandemia impôs uma estrutura de guerra, inclusive com hospitais de campanha – como os que são montados e desmontados para acompanhar os batalhões durante os deslocamentos. Ainda que sobre inúmeros corpos, há nas guerras também avanços, tanto em termos de tecnologia como em logística. O que fica para Goiás depois de dois anos nesta guerra contra o coronavírus?

Em relação à estrutura de atendimento, uma decisão realmente muito acertada foi a de utilizar estruturas físicas permanentes para os hospitais de campanha. Alguns Estados optaram por hospitais temporários – que aqui em Goiás ocorreu apenas em Águas Lindas, na estrutura montada pelo governo federal. Outras unidades federativas, como o Distrito Federal, compraram o serviço de outros hospitais, no que chamamos de contratualizar.

Por aqui, optamos por utilizar a estrutura que já existia. O problema é que ela estava inacabada, na maioria dos casos. No Hospital do Servidor [comprado do Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado de Goiás (Ipasgo) pelo Estado em janeiro, por R$ 128 milhões, para se tornar o Hospital da Criança e do Adolescente], não havia nenhum leito de UTI, não tinha praticamente nada. Falo isso porque eu mesma fui lá antes de ele ser transformado em hospital de campanha, para avaliar as questões sanitárias. Isso também ocorreu em outras unidades de saúde do Estado que foram dedicadas para atender à Covid-19.

Essas estruturas vão ficar como legado da pandemia. Hoje, temos grandes hospitais regionais que já estão atendendo outras patologias. O Hospital Estadual do Centro-Norte [HCN, localizado em Uruaçu] fez recentemente a primeira cirurgia vascular da região do Norte-Nordeste goiano. Isso é um legado, o que foi montado para a Covid vai ficar para atender a população em relação a outras patologia e necessidades hospitalares.

“Um legado importantíssimo desses hospitais públicos do interior que serviram ao atendimento à Covid-19: todos eles têm agora equipamento de ressonância magnética.”

Essa maior cobertura da saúde pelo Estado vai desafogar – ou já desafogou – o sistema de saúde na região metropolitana de Goiânia? Ou seja, já há algum efeito positivo em relação àquilo que se chama de “ambulancioterapia”?

É algo que será gradativo. Nós começamos a ver essa mudança, mas a própria pandemia condicionou um represamento da demanda para outras doenças. Então, pacientes crônicos de diabetes, hipertensão, outros problemas cardíacos etc. ficaram sem ter monitoramento. Muitas cirurgias, que deveriam ter sido feitas, foram canceladas porque os hospitais estavam atendendo praticamente só casos de Covid-19. Quando essa demanda reprimida for solucionada, aí sim vamos ver esse quadro de desafogamento e de redução da “ambulancioterapia” e questões similares.

Há também uma certa cultura, no interior do Estado – em alguns casos, talvez por costume, apenas –, de encaminhar pacientes que ficam em estado um pouco mais grave de saúde. As pessoas pensam que o hospital de sua cidade nunca tem os recursos que os da capital.

Vou citar um legado importantíssimo desses hospitais públicos do interior que serviram ao atendimento à Covid-19: todos eles têm equipamento de ressonância magnética. Era algo imprescindível para diagnosticar a doença e fazer as avaliações. Esses aparelhos ficaram nos hospitais do interior e hoje, por exemplo, ninguém precisa sair de Porangatu para vir a Goiânia.

O número de UTIs no interior também cresceu bastante?

No sistema público, não havia UTI a não ser na região metropolitana. O que havia de leitos desse porte era em hospitais privados, mas não havia leitos estaduais de UTI no interior. Esse também é outro grande legado, com certeza.

Os profissionais de saúde com certeza têm vários relatos de pessoas que se negaram a tomar a vacina e hoje estão na UTI justamente por causa dessa resistência, causada por alguma ideologia ou outro princípio que considerassem mais valioso do que a imunização. Muitas delas acabam externando esse arrependimento. A sra. chegou a ter algum histórico nesse sentido com alguém mais próximo?

Eu não vi isso diretamente, mas já ouvi, de profissionais – médicos, enfermeiros etc. – que trabalham em UTIs, esses relatos de arrependimento. Muitos relataram falas desse tipo, infelizmente. Quem vê as estatísticas, os números, percebe como é visível: quando a gente abre o painel e vemos a barrinha dos gráficos entre os que morreram sem se vacinar ou só tomaram uma dose e a dos que se imunizaram com reforço, a diferença é enorme. Hoje, essa diferença é de 19 vezes: para cada óbito de um idoso com dose de reforço na vacinação, há 19 idosos que perdem a vida entre os que não se vacinaram ou não completaram o ciclo. É algo muito sério e ainda tem gente que acredita que a vacina não faz diferença.

Nunca saberemos exatamente como seria se todo mundo tivesse juntado esforços para o mesmo lado, se não tivesse havido uma falta disputa entre preservar a saúde das pessoas ou a economia, incentivo a aglomeração e ao uso de remédios ineficazes em vez de obediência às normas sanitárias, notícias falsas sobre as vacinas e tantas outras coisas. A gente poderia ter evitado uma quantidade relativamente grande de mortes no Brasil se não houvesse esses obstáculos? A política negacionista pode ser considerada o fator mais agravante da pandemia no País?

Não teria como afirmar que seria o fator mais grave para isso, seria preciso um estudo que afirmasse isso. Mas, com certeza, o negacionismo teve um grande impacto. A gente vê os efeitos disso claramente na vacinação. Por que não conseguimos alcançar a cobertura ideal? Em Goiás temos um problema sério nesse sentido, de pessoas que se recusam mesmo, são enfáticas em dizer que não vão tomar vacina, ou que tomaram a primeira dose e se recusam a tomar a segunda. São relatos dos próprios gestores municipais, que fizeram busca ativa, ligaram para as pessoas, conversaram com elas e, mesmo assim, têm como resposta coisas como “essa vacina tem chip”, “essa vacina veio para matar as pessoas” e outras coisas loucas. As pessoas acabam acreditando em certos boatos que ouvem ou leem.

A falta de um comando único – algo que historicamente sempre tivemos – fez toda a diferença. Nós sempre tínhamos tido isso para o PNI, o Programa Nacional de Imunizações. Em 2010, com a H1N1 – digo isso porque eu vivi essa época, estava trabalhando em campanha de vacinação, ajudando a organizar o processo em Goiânia – como foi mais fácil e tranquilo trabalhar e lidar com todas as situações. A Covid, por si só, já era algo mais complexo. Tudo ficou pior com essa falta de comando nacional. Tanto que, pela primeira vez, a gente viu a imunização sair do PNI e se criar uma secretaria paralela para trabalhar com vacina, nunca vimos isso na história. Tiraram toda a governabilidade do PNI e a colocaram para um grupo de pessoas que não trabalhavam com vacinas, que não eram do PNI, uma coisa louca.

Ninguém de fora do meio tem noção do que foi fazer a logística das vacina nesta pandemia. Lotes que chegavam de forma fracionada, em horários diferentes, de madrugada, às vezes um lote vinha dividido em três. Chegamos a deixar equipe a noite inteira no aeroporto para pegar as vacinas. Isso foram várias vezes, falavam que a carga iria chegar em determinado horário e chegava em outro. E, nisso, nossa equipe ficava a madrugada inteira esperando e depois, imediatamente, tinha de encaminhar para os municípios, porque tinha cidade que só estava esperando a vacina chegar. Loucura mesmo. Depois dessa, acho que a gente faz qualquer coisa. (risos)

E o Brasil, com sua condição de país continental, se em Goiás estava difícil assim, imagino como estava a situação das vacinas no Amazonas…

A gente tem um grupo formado com superintendentes do Brasil todo e os relatos são tristes, realmente.

O que fica de lição desta pandemia que parece estar no fim?

Não podemos esquecer de forma alguma do que a gente viveu. Hoje, quando estava vindo aqui para a Suvisa, estava me lembrando que há dois anos estávamos vivendo aquele lockdown mais amplo no Estado. Então, me recordei de como, vindo de casa para o trabalho, como as ruas estavam vazias. Portanto, que a gente não se esqueça do que vivemos.

Precisamos estar cientes de que pode ocorrer de novo. Para ter ideia, em 2007, salvo engano, participei de um evento no Ministério da Saúde, nos preparando para uma possível pandemia de doença respiratória. Só que, na época, a gente pensava que isso viria pelo vírus H5N2, o da gripe aviária, que estava circulando na Ásia. A OMS já estava preparando os países e o governo federal preparando os Estados. Parecia algo, mas veio algo em 2009, com o H1N1, ainda que de forma mais branda. Mas, infelizmente, aconteceu isso em 2020. E pode acontecer de novo. O que fica, para o futuro, é que a gente precisa estar preparado e, portanto, não se esqueça do que viveu. Ou seja, se tiver uma recomendação, um protocolo, que isso seja seguido, por mais difícil que seja e que a gente queira levar a vida normalmente. Estamos deixando de usar máscaras agora, mas, se vier uma nova variante e precisarmos voltar a usá-las, que as pessoas entendam o porquê.

“Em um momento da pandemia eu perdi, em 15 dias, oito pessoas próximas a mim. Fui ao hospital para acompanhar o cortejo da mãe de uma colega de trabalho que tinha falecido e me impressionou a fila de carros funerários: eram pelo menos 13 ali.”

As cenas que vimos na Europa, no começo de tudo, impressionaram bastante. Ao vermos estádios, ginásio e centros de convenções – locais de celebração da vida, da cultura e da saúde – transformados em hospitais e necrotérios improvisados. Dor, sofrimento, medo e luto. Nosso povo viu aquilo e viveu o começo da pandemia de uma forma assustadora. Depois, tudo ficou mais grave por aqui, mas o que fica é a imagem daqueles caminhões militares carregados com caixões pelas ruas. Se fizéssemos uma fila com os corpos de brasileiros mortos pela Covid-19 ao longo da Via Dutra teríamos o percurso todo coberto, do centro de São Paulo ao do Rio de Janeiro, em ida e volta. E ainda sobrariam cadáveres. É uma cena de guerra, horrível. E a gente não para para pensar nisso. Por que a gente normalizou isso?

Eu vivi isso no hospital de campanha. Teve um momento da pandemia em que eu perdi, em 15 dias, oito pessoas próximas a mim. E, como não podíamos ter velórios, havia os cortejos. E, em uma dessas mortes de alguém próximo, fui ao hospital para acompanhar o cortejo da mãe de uma colega de trabalho que tinha falecido. E me impressionou a fila de carros funerários: eram pelo menos 13 ali. Foi um período em que a associação das empresas funerárias nos pediu ajuda para tentar liberar corpos o mais rapidamente possível para que não ficassem tanto tempo na fila. Eu tenho essas mensagens guardadas no meu celular e é algo que vai ficar comigo, para nunca esquecer. São imagens muito tristes, que nunca havíamos visto na vida, que preferíamos não lembrar, mas que não podemos esquecer.

   

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O HOJE

Câmara deve votar piso salarial de enfermagem nas próximas semanas; entenda o projeto

Por: Ícaro Gonçalves

A Câmara dos Deputados deverá votar nesta semana a urgência do projeto de piso salarial nacional para enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e parteiras. A pauta já havia sido aprovada pelo Senado em novembro do ano passado, estabelecendo um piso de R$ 4.750 para enfermeiros e enfermeiras do setor público e privado, mas ainda necessita da aprovação da Câmara para entrar em vigor.

Segundo o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), após discutida a sua urgência, a pauta poderá ter o mérito analisado em abril. Além dos enfermeiros, a proposta estabelece piso de R$ 3.325 para técnicos de enfermagem e R$ 2.375 para auxiliares de enfermagem e parteiras, sendo que todos deverão ser corrigidos anualmente pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

Ainda de acordo com Lira, a Câmara estabeleceu um cronograma de trabalho para que sejam buscadas fontes de recursos para o aumento nas redes públicas e nos hospitais filantrópicos.

Impasses

Desde de que o projeto foi apresentado, hospitais privados e entidades que representam municípios criticaram a proposta, afirmando que a medida criaria gastos adicionais na ordem de dezenas de bilhões de reais.

O projeto de lei foi originalmente apresentado pelo Senador Fabiano Contarato (Rede-ES), depois foi substituído por um texto da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), com relatoria de Zenaide Maia (Pros-RN).

Seus defensores afirmam que estabelecer um piso para a remuneração das categorias de enfermagem seria “o mínimo” que o Congresso pode fazer para reconhecer o esforço e o sacrifício desses profissionais, principalmente durante a pandemia.

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Maior estudo sobre ivermectina mostra ineficácia do remédio na redução de hospitalizações por Covid-19

O maior estudo já feito sobre a ação do antiparasitário ivermectina, demonstra que o efeito do remédio é equivalente ao do placebo, ou seja, não apresenta uma reação real com o organismo, mas é empregado como se fosse ativo. O estudo publicado na última sexta-feira (18/03), exclusivamente pelo The Wall Street Journal, foi liderado pela Universidade McMaster, no Canadá, e envolveu 1400 pacientes com Covid, que apresentavam um risco grave da doença. 

Os infectados foram divididos em grupos, sendo que o primeiro recebeu comprimidos do antiparasitário durante três dias, enquanto o outro grupo tomou placebo. De acordo com o professor de ciências da saúde da instituição e principal autor do estudo, Edward Mills, “não houve indicação de que a ivermectina seja clinicamente útil”.

O estudo mostrou que foi revisado por pares, mostrou que o remédio não foi capaz de atuar na redução de hospitalizações. Segundo o reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical do Baylor College of Medicine, Peter Hotez, um dos revisores do trabalho, “esse é o primeiro grande estudo prospectivo que deve realmente ajudar a acabar com a ivermectina e não dar credibilidade ao uso dela para o Covid-19”.  

O remédio utilizado para tratar infecções causadas por parasitas, como piolho, sarnas e lombrigas, foi uma das formas empregadas como “tratamento precoce” para a Covid-10, no início da pandemia e, no Brasil, fez parte do chamado “Kit Covid”, junto com outras medicações sem eficácia. 

No entanto, em julho de 2020, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), rejeitou a utilização da droga para essa finalidade. Também, nos Estados Unidos, a agência reguladora de medicamentos Food and Drug Administration (FDA), desaconselhou o uso da ivermectina no tratamento da Covid-19.

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DIÁRIO DA MANHÃ

Momento ideal para a cirurgia bariátrica

Bariátrica é segura, mas exige equipe de profissionais. Presidente de comissão do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Leonardo Emílio da Silva explica que taxa de mortalidade fica em torno de 0,12%

A morte do jornalista esportivo Paulo Victor Damasceno, mais conhecido como PVezinho, aos 34 anos, comoveu Goiás na última sexta-feira (18). Complicações de uma cirurgia bariátrica, procedimento indicado para tratar casos de obesidade grave, tiraram a vida do radialista. O Hospital Santa Mônica publicou nas redes sociais que não divulga informações sobre pacientes “em respeito ao sigilo médico”, portanto não foi esclarecido o que de fato ocorreu.

Apesar da triste perda, de acordo o cirurgião e presidente da Comissão de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Leonardo Emílio da Silva, a cirurgia bariátrica é segura. “Em serviços médicos e hospitalares estruturados e preparados, a cirurgia bariátrica e metabólica tem a taxa de mortalidade em torno de 0,12%”, esclarece.

Porém, como o procedimento é realizado em pacientes obesos clinicamente graves e, muitos, carregam consigo doenças inerentes à obesidade, logo, portadoras de um risco próprio de complicações e mortalidade.

Mas, para diminuir os riscos, o cirurgião Leonardo Emílio ressalta que o paciente deve primeiro submeter a um programa completo de avaliação pré-operatório. A preparação deve contar com cardiologista, endocrinologista, nutricionista, psicólogo, pneumologista, fisioterapeuta respiratório e anestesiologista.

“Tal fato aumenta a segurança do procedimento cirúrgico pois, permite o reconhecimento e tratamento de situações clínicas inerentes à doença da obesidade”, diz.

Indicações
Conforme resolução do Conselho Federal de Medicina, a cirurgia bariátrica é indicada para pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 35 kg/m², e portadores de doenças sabidamente associadas à obesidade, a exemplo de hipertensão, diabetes, dentre outras.

Já para os pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2, se não houver resposta ao tratamento clínico convencional, o procedimento é permitido com IMC entre 30 kg/m2 e 34,9 kg/m2. “É uma cirurgia regulamentada e autorizada conforme normas rígidas pré-estabelecidas”, reforça o cirurgião.

“Tomaria a mesma decisão novamente”

A engenheira e estudante de medicina Bárbara Macedo, 30 anos, submeteu a cirurgia bariátrica há três anos. Na época, pesava 105 kg. “Fazer bariátrica foi uma questão de saúde acima da estética. O excesso de peso piorou lesões que tenho na coluna e joelho e sentia muita dor. Meu caminhar se tornava impossível, então não conseguia fazer exercícios físicos. Também não dormia direito, por causa de períodos de apneia”, recorda.

Antes de passar pelo procedimento, ela foi atendida por uma equipe, que envolveu: cirurgião gástrico, cardiologista, endocrinologista, pneumologista, nutricionista, psicólogo e angiologista. Deu tudo certo, ela chegou a perder mais de 50kg mas, recentemente, teve reganho de peso e está com 76kg.

“Mesmo com o reganho, tenho minhas funções normais. Consigo me exercitar, não sinto dores insuportáveis. E por isso já valeu todo o esforço para a cirurgia. Apesar de um início difícil, tomaria a mesma decisão novamente. Mudei completamente”, explica.

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Assessoria de Comunicação