Artigo - A responsabilidade do paciente
Artigo publicado no jornal O Popular em 30/03/19
A responsabilidade do paciente
Nos últimos anos, a melhora constante dos restaurantes, lojas e hotéis em Goiânia foi notável e tenho duas possíveis explicações para isso: a primeira, estamos viajando muito mais, conhecendo novos padrões e nos tornando mais cultos e exigentes. A segunda é que estamos dispostos a pagar para ter aqui a mesma qualidade que experimentamos fora. O que difere esses outros negócios do setor hospitalar? Em um restaurante, você escolhe, você consome e você paga! Em um hospital não é assim.
Em nosso setor, a relação prestador/consumidor foi brutalmente alterada com o surgimento das operadoras de planos de saúde. Quem nos paga são elas e quem paga é quem manda! O remédio que você sempre tomou em casa é azul e no hospital é verde? Provavelmente, a sua operadora só paga genéricos. Está calor lá fora e o quarto não tem ar-condicionado? Confira o contrato do plano de saúde que você assinou e nunca leu, não tem ar-condicionado lá.
A relação foi terceirizada: você é o nosso paciente, não o nosso cliente e essa escolha jamais foi nossa. Lutamos constantemente para conseguir reajustes que possam manter os nossos negócios viáveis, que não nos obriguem a comprar materiais somente porque são mais baratos. Lutamos para que o paciente fique internado ou faça todos os exames que o médico considere necessários sem sermos apresentados a uma desgraça que só existe no nosso meio: a glosa hospitalar. O que é isso? É a forma da sua operadora nos informar que não pagará o que você utilizou durante o seu tratamento. Simples assim. Você precisou, usou, mas o hospital/médico não receberá nada e, provavelmente, você nunca soube ou saberá disso.
Em Brasília, neste ano, abrirão nove novos hospitais, sendo três de altíssimo padrão, totalizando aproximadamente 1000 novos leitos em alta complexidade. Porque lá e não cá? Porque apesar da pouca distância entre Brasília e Goiânia há um abismo de mercado entre elas. Chega-se a pagar de três a quatros vezes mais pelo mesmo procedimento lá do que se paga aqui, e esse resultado dita o interesse do mercado.
Muito se fala nos direitos do paciente e seria muito saudável se também falássemos nas suas obrigações. Não pague R$ 72,00 por um “plano de saúde” acreditando que estará plenamente coberto, e quando descobrir que não está não desconte no seu médico ou recepcionista, leia o seu contrato e veja a que realmente tem direito.
Se informe sobre os hospitais. Quais realmente estão engajados na melhoria e exija da sua operadora que, em caso de necessidade, você seja encaminhado para um deles. A qualidade é uma resposta a uma demanda da clientela, não o contrário. Tornem-se melhores clientes e nos tornaremos melhores hospitais, ou seremos substituídos.
Haikal Helou é médico e presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg)
Nos últimos anos, a melhora constante dos restaurantes, lojas e hotéis
em Goiânia foi notável e tenho duas possíveis explicações para isso: a
primeira, estamos viajando muito mais, conhecendo novos padrões e nos
tornando mais cultos e exigentes. A segunda é que estamos dispostos a
pagar para ter aqui a mesma qualidade que experimentamos fora. O que
difere esses outros negócios do setor hospitalar? Em um restaurante,
você escolhe, você consome e você paga! Em um hospital não é assim.
Em nosso setor, a relação prestador/consumidor foi brutalmente alterada
com o surgimento das operadoras de planos de saúde. Quem nos paga são
elas e quem paga é quem manda! O remédio que você sempre tomou em casa é
azul e no hospital é verde? Provavelmente, a sua operadora só paga
genéricos. Está calor lá fora e o quarto não tem ar-condicionado?
Confira o contrato do plano de saúde que você assinou e nunca leu, não
tem ar-condicionado lá.
A relação foi terceirizada: você é o nosso paciente, não o nosso cliente
e essa escolha jamais foi nossa. Lutamos constantemente para conseguir
reajustes que possam manter os nossos negócios viáveis, que não nos
obriguem a comprar materiais somente porque são mais baratos. Lutamos
para que o paciente fique internado ou faça todos os exames que o médico
considere necessários sem sermos apresentados a uma desgraça que só
existe no nosso meio: a glosa hospitalar. O que é isso? É a forma da sua
operadora nos informar que não pagará o que você utilizou durante o seu
tratamento. Simples assim. Você precisou, usou, mas o hospital/médico
não receberá nada e, provavelmente, você nunca soube ou saberá disso.
Em Brasília, neste ano, abrirão nove novos hospitais, sendo três de
altíssimo padrão, totalizando aproximadamente 1000 novos leitos em alta
complexidade. Porque lá e não cá? Porque apesar da pouca distância entre
Brasília e Goiânia há um abismo de mercado entre elas. Chega-se a pagar
de três a quatros vezes mais pelo mesmo procedimento lá do que se paga
aqui, e esse resultado dita o interesse do mercado.
Muito se fala nos direitos do paciente e seria muito saudável se também
falássemos nas suas obrigações. Não pague R$ 72,00 por um “plano de
saúde” acreditando que estará plenamente coberto, e quando descobrir que
não está não desconte no seu médico ou recepcionista, leia o seu
contrato e veja a que realmente tem direito.
Se informe sobre os hospitais. Quais realmente estão engajados na
melhoria e exija da sua operadora que, em caso de necessidade, você seja
encaminhado para um deles. A qualidade é uma resposta a uma demanda da
clientela, não o contrário. Tornem-se melhores clientes e nos tornaremos
melhores hospitais, ou seremos substituídos.
Haikal Helou é médico e presidente da Associação dos Hospitais Privados
de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg)