Fórum da Ahpaceg e The1 debate atual cenário da saúde privada de Goiás
Realizado pela Ahpaceg e The1, evento contou com palestra do médico Gonzalo Vecina, que deu dicas para hospitais se adequarem às novas demandas socioeconômicas
As consequências da crise financeira, da concentração do mercado de planos de saúde e do envelhecimento da população na gestão dos hospitais privados goianos foram debatidas no Fórum Os Caminhos da Saúde, promovido pela Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) e pela empresa especializada em assistência médica The1 nesta quinta-feira (7), na sede da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas de Goiás (Coopanest-GO). O evento, que teve o apoio da Orbis Engenharia, Fundação Getúlio Vargas e Coopanest-GO, reuniu representantes do setor hospitalar privado, de operadoras de planos de saúde, de cooperativas médicas, gestores públicos e profissionais de saúde.
O médico e professor da Universidade de São Paulo (USP), Gonzalo Vecina, palestrante do fórum, discutiu as transformações sociais e as influências destas no sistema de saúde. “Vivemos mudanças constantes e não somos capazes de melhorar com a mesma velocidade. Além da situação financeira, temos também a longevidade da população. Morremos mais velhos, com doenças crônicas e degenerativas que possuem tratamentos complexos. Com isso, há um aumento de custos e necessidade de especialização nos hospitais”, citou Vecina, também ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ex-CEO do Hospital Sírio-Libanês.
Esse cenário é ainda mais preocupante em Goiânia, de acordo com Christiano Quinan, CEO da The1. Ele explicou que as receitas por leito nos hospitais da cidade são quatro vezes menores do que de hospitais de Curitiba (PR), Uberlândia (MG) e Campinas (SP), entre outros locais. A concentração de usuários em poucos planos de saúde – 63% dos goianos em apenas três operadoras – associada aos investimentos menores também complica a situação dos profissionais e da rede hospitalar.
“O SUS é sempre o foco, mas o sistema de saúde também é composto pelo privado e este precisa estar nas pautas de discussões. Apoiar e participar desse evento é um modo de mostrar que a responsabilidade é de todos da área da saúde e não só dos hospitais”, alertou Quinan, exemplificando que a receita média por leito de hospitais privados no Brasil em 2017, de acordo com o Observatório da Anahp (Associação Nacional dos Hospitais Privados) foi de R$ 1.375 milhões/ano, enquanto a dos hospitais goianos foi quatro vezes menor: R$ 326 mil.
Segundo ele, o cenário está ruim para os operadores do sistema, os prestadores de serviços hospitalares, os clientes corporativos, que não têm muito opção de contratação de plano de saúde e estão com reajustes elevados, e para os usuários, que também enfrentam dificuldades para conseguir atendimento.
Buscar em conjunto soluções que assegurem a sustentabilidade e a continuidade do atendimento nos hospitais goianos foi o principal objetivo para a realização do fórum, segundo Haikal Helou, presidente da Ahpaceg. “Temos que unir os hospitais, os prestadores de serviço, a Secretaria da Saúde do Estado e trabalhar para que possamos captar o paciente e mantê-lo de forma viável para todos, sem exploração ou desconfiança de nenhum lado”, disse.
Segundo Gonzalo Vecina, algumas atitudes propiciam alcançar essas medidas necessárias e tornar o sistema de saúde mais eficaz para os hospitais e, consequentemente, pacientes. Entre as dicas está ter o crescimento escalonado, com gastos e ganhos planejados, seguido de redes de especialização, pesquisas, incentivo ao tratamento humanizado e à independência e participação do paciente no tratamento, além de abraçar a cultura da digitalização.
“Precisamos criar um novo tipo de cliente, que não seja apenas paciente, mas sujeito, que faça sua parte, que confira que medicamento está recebendo, que verifique se o médico lavou as mãos antes de atendê-lo, que se cuide e que participe de seu processo de atenção”, ensinou Vecina, que também reforçou a importância de uma gestão mais eficiente e destacou que há muitas coisas a serem feitas, mas é preciso querer fazer.
Troca de experiências
Foi a reunião de profissionais de diversos setores da área da saúde o principal atrativo no fórum, na opinião do diretor de Mercado da Unimed Goiânia, Sérgio Baiocchi. “Estamos em um contexto de desequilíbrio e precisamos nos aglutinar para resolver os problemas que aparecem, como a questão financeira. Também sou médico e gostaria de ganhar mais, mas como diretor sei que é impossível pagar mais”, declarou.
A enfermeira e vendedora de equipamentos hospitalares Karine Alves vive um problema semelhante. Ela conta que os centros médicos de Goiás adquirem apenas os produtos pagos pelos convênios pela escassez de dinheiro em caixa, o que pode comprometer a medicina da região. Para ela, é importante discutir os caminhos dos hospitais do Estado com profissionais que possuem vivências diversas.
Essa insatisfação citada pelos participantes está presente em todos que atuam na área da saúde e mostra que algo está errado, segundo Gustavo Gabriel Rassi, 2º vice-presidente da Ahpaceg e diretor do Hospital do Coração Anis Rassi. “Nosso desafio é buscar alternativas em que os hospitais e os prestadores de serviço sejam reconhecidos em vista sempre da qualidade e de segurança oferecidas aos pacientes, levando o selo da Ahpaceg ao cenário nacional e internacional”, afirmou Rassi, citando o selo de certificação criado pela Associação para a classificação dos hospitais.