Artigo - Haikal Helou: O que esperar de um bom hospital
Quando sou apresentado a alguém como o presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás, começo a contar em silêncio quanto tempo levará para surgir a inevitável pergunta: "Me internei ou vou me internar para um procedimento ou cirurgia em tal hospital. Ele é bom?"
Costumo responder com outra pergunta: o que o senhor (a) considera um bom hospital? Essa prática costuma gerar uma frustração inicial. O paciente quer uma resposta objetiva e eu quero que ele raciocine.
A vasta maioria cita a limpeza e beleza da estrutura, associadas à gentileza das recepcionistas e à amizade com algum médico do corpo clínico, como os critérios principais. Como secundários, vêm a proximidade de onde se mora ou trabalha e a facilidade de estacionamento!
Limpeza e cortesia são condições básicas para o funcionamento de qualquer negócio e se tornam mais evidentes em um hospital, pela correta associação entre falta de higiene e infecções. E o tratamento descortês a alguém fragilizado pela dor ou medo da morte adquire proporções monumentais. Mas a qualidade de um hospital está muito além destes quesitos subjetivos. O que, então, o paciente deve procurar em um hospital antes de se internar? Respondo: segurança.
Algumas perguntas simples podem indicar o compromisso com a segurança. São elas: existe plantonista 24 horas? Laboratório e exames radiológicos funcionam 24 horas? Tem Centro de Terapia Intensiva? Possui gerador alternativo de energia? As comissões de Controle de Infecção Hospitalar, Óbitos, Prontuários, Controle de Qualidade se reúnem com que frequência? Posso ver os resultados destas reuniões? Os equipamentos do centro cirúrgico são compatíveis com a cirurgia proposta?
Se as respostas seguirem a linha: "CTI ? Para que CTI? Sua cirurgia será simples, você não precisará de CTI" ou "gerador só serve para poluir e essa nossa região é privilegiada, pois nunca falta energia!" ou, ainda, "as comissões se reúnem, mas os resultados são confidenciais!" Pense bem: talvez esteja na hora de conversar com o seu médico de confiança ou o responsável pela internação e externar suas preocupações com a sua segurança.
Possuir os itens acima não é garantia de qualidade, mas deveria ser o requisito mínimo para se chamar uma instituição de hospital. Hoje, temos em Goiânia, aproximadamente, 130 instituições que se apresentam como hospitais. Muitas nada mais são que casas adaptadas, com alguns consultórios, uma sala de procedimentos, quatro a oito leitos, e abrem às 8 e fecham às 18 horas. Essas instituições são um ambulatório? Centro clínico? Day-hospital? Eu não sei. O que sei é que não são hospitais.
Não existe um hospital totalmente seguro, porque é uma instituição fortemente baseada em pessoas e por fadiga, despreparo, negligência, sobrecarga de funções ou horas trabalhadas, essas pessoas errarão. É neste momento que vemos café com leite na veia, ácido no lugar do sedativo e órgãos e membros erroneamente extirpados. Junte-se a isso a falta dos equipamentos mínimos necessários e teremos um "acidente" esperando para acontecer.
Ninguém em sã consciência discordará que a saúde é o nosso bem mais precioso, se já não soubéssemos disso desde sempre, teríamos aprendido nas pesquisas e campanhas eleitorais recentes. Então, por que é tão fácil apontar os melhores hotéis, pamonharias, operadoras de celulares, bancos e diversos outros serviços oferecidos em Goiânia, mas não os melhores hospitais? Além do que já foi dito até agora, carecemos de uma avaliação externa, de uma creditação/classificação que tenha credibilidade e que sirva de marco regulador e orientador.
Cientes dessa deficiência, nós da Ahpaceg, em parceria com os maiores compradores de serviços de saúde da capital (Unimed, Ipasgo, Unidas, Bradesco e Amil), elaboramos um abrangente manual de classificação. Claro e transparente, ele classificará os hospitais de acordo com a sua resolutividade, segurança, estrutura física e organização, conferindo selos de qualidade semelhantes às estrelas conferidas aos hotéis.
Você, usuário, é o grande responsável pelo tratamento que recebe, exija segurança e qualidade do seu médico, do seu hospital, da sua operadora de saúde. Desta última em especial, demande que as negociações não sejam apenas baseadas em custo, que a segurança do paciente seja o foco principal, que eles não cadastrem como rede credenciada qualquer um que lhes bata a porta, mas apenas aqueles que sejam capazes de comprovar sua qualidade pelos métodos científicos aqui propostos. Não espere o inevitável acidente automobilístico ou infarto do miocárdio para começar a se interessar pelo assunto, pois poderá ser tarde demais.
Haikal Helou é médico e presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás
(Artigo publicado no jornal O Popular, 09/11/12, página 7)