Ahpaceg na Mídia - 04/12/12
DIÁRIO DA MANHÃ
Busca por beleza pode ser fatal
Morte de modelo jataiense alerta para os riscos de realizar cirurgia plástica em unidades sem infraestrutura
Cecília Preda
A busca incansável pela beleza vem levando diversas mulheres a investir em procedimentos cirúrgicos. O objetivo principal da maioria delas é se encaixar em um padrão criado pela mídia, que julga o que é feio e o que é bonito. Mas, o que é realmente ser bonita? Segundo a ditadura da beleza imposta às mulheres, apenas aquelas de cintura fina e seios grandes podem ser classificadas como atraentes. Então, para que sejam aceitas nesse universo, às vezes cruel e impiedoso, mulheres realizam cirurgias para alcançar o corpo perfeito ignorando riscos e não se informando sobre infraestrutura dos hospitais ou sobre o que é necessário para que o procedimento aconteça com segurança.
No último domingo, a busca pela perfeição fez mais uma vítima. A modelo jataiense Louanna Adrielle Castro Silva, de 24 anos, que também era Miss Jataí Turismo 2012, morreu durante procedimento cirúrgico que ela acreditava ser simples. A jovem desejava ter seios maiores e por isso recorreu ao implante de próteses de silicone.
No entanto, o hospital escolhido pelo cirurgião e a moça para realizar a cirurgia, Hospital Buriti, que fica no Parque Amazônia, em Goiânia, não possuía Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Durante o procedimento a jovem sofreu uma parada cardíaca e a falta de UTI foi um dos principais pontos que impossibilitaram que Louanna fosse salva.
A jovem teve de ser transferida para o Hospital Monte Sinai, no Setor Ipiranga, também na Capital. Porém, a modelo sofreu uma nova parada cardíaca e não resistiu. Além da falta de UTI na unidade médica escolhida para que o procedimento fosse realizado, a jovem modelo foi submetida a cirurgia mesmo apresentando um laudo que afirmava que ela possuía arritmia cardíaca. O corpo de Louanna foi velado no domingo, e sepultado no Cemitério São Miguel, em Jataí.
A equipe de reportagem do Diário da Manhã tentou entrar em contado com o médico que realizou a cirurgia, Rogério Morale nas duas clínicas em que o profissional atua. Na Clínica Notre Dame, em Jataí, ninguém atendeu as ligações. Já na Clínica Master de Cirurgia Plástica a secretária informou que o médico retornaria a ligação, no entanto, até o fechamento desta edição Rogério não entrou em contato com o DM.
Um laudo cadavérico e um exame toxicológico já foram solicitados ao Instituto Médico Legal (IML) e ao Instituto de Criminalística. A depender do resultado, o médico poderá ser indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. O caso foi registrado no 5º Distrito Policial de Goiânia (DP), mas o inquérito será conduzido pelo 13º DP.
A administração do Hospital Monte Sinai informou que a causa da morte da jovem se justifica porque ela era usuária de drogas e por esse motivo teria sofrido as paradas cardíacas. Já o Hospital Buriti informou que não irá se pronunciar sobre o caso.
Segurança
A morte da jovem ganhou grande repercussão na mídia e nas redes sociais. Depois do acontecido a pergunta que fica é: será que realizar esse tipo de procedimento é realmente seguro? Vale a pena arriscar a própria vida em busca de um padrão de beleza que está distante da realidade da maioria das brasileiras?
O presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg), Haikal Helou alerta sobre a importância da escolha do hospital no qual o procedimento será realizado. Segundo ele, a morte de pacientes em estabelecimentos de serviços de saúde que funcionam como hospitais, mas sem a estrutura exigida de serviços hospitalares, vem se repetindo com frequência em Goiás.
"É uma tragédia anunciada que tem de parar", declara o presidente da Ahpaceg. De acordo com Helou, atualmente, existem 130 instituições que se apresentam como hospitais, mas muitas nada mais são que casas adaptadas. "Existem estabelecimentos com alguns consultórios, uma sala de procedimentos, de quatro a oito leitos que se classificam como hospitais. Essas unidades não são hospitais", declara o presidente.
Por isso, Haikal esclarece que as pessoas que desejam realizar cirurgia plástica busquem se informar se o hospital possui requisitos mínimos, como: ter uma equipe de médicos plantonistas, serviço de laboratório e exames radiológicos 24 horas; Centro de Terapia Intensiva; possuir gerador alternativo de energia; comissões de Controle de Infecção Hospitalar, Óbitos, Prontuários, Controle de Qualidade funcionando efetivamente; e equipamentos do centro cirúrgico compatíveis com as cirurgias propostas. "O usuário é o grande responsável pelo tratamento que recebe e deve exigir segurança e qualidade do seu médico e do seu hospital", orienta.
Para garantir que os requisitos mínimos sejam obrigatórios, a Ahpaceg apresentou uma proposta às principais operadoras de planos de saúde, ao Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) e ao Serviço de Proteção ao consumidor (Procon). A associação alega que vem lutando para buscar apoio de entidades para chamar a atenção da sociedade sobre a importância da escolha de um bom hospital.
Outro quesito importante é ficar atento ao preço do implante. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), é obvio que o fator pesa na hora da escolha, mas é importante ressaltar que o barato pode sair caro. Um implante de próteses de silicone mamárias custa aproximadamente R$ 6 mil, por isso deve-se desconfiar de valores que estão muito abaixo da média cobrada pelos profissionais.
Tipos de prótese
Outro ponto importante a ser analisado antes da cirurgia é o tipo de prótese que o cirurgião trabalha. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) esclarece em seu portal na internet que a escolha do tipo de prótese de silicone ideal para cada paciente é uma decisão tão importante quanto a escolha do tamanho, pois o perfil será o responsável pelo formato das novas mamas. A entidade ainda destaca que é fundamental que a pessoa peça o comprovante de que a prótese para saber se ela é ou não aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Existem atualmente no mercado de próteses cinco tipos de perfis. O baixo tem uma base mais larga e é indicada quando se deseja uma maior projeção do colo e pouca para a frente. Já o moderado é a base pouco larga e projeção mais baixa, ela é usada para preenchimento moderado do colo mamário e pouca projeção para a frente.
Já o perfil alto possui uma base menor e a projeção é mais alta. Este tipo é usado para projetar os seios para a frente sem tanta necessidade de preenchimento. O superalto tem a base ainda menor e de maior projeção para quando se deseja preencher bem o colo. O último é o anatômico. Este perfil tem um formato de gota e é indicado para mulheres que querem um aumento de forma e contorno proporcional.
Além do perfil da prótese ainda existe os tipos de superfícies das próteses mamárias. Os mais utilizados são o implante texturizado que possui uma superfície com microrrugosidades. Já o implante poliuretano possui sua superfície revestida com uma espuma de poliuretano. Ela é mais sensível à palpação e possui maiores chances de dobras.
Mais entrevistas - A importância da escolha de um hospital que ofereça maior segurança ao paciente também foi abordada pelo presidente da Ahpaceg em entrevistas ao jornal O Popular e à Rádio 820 e será enfocada hoje em entrevista à Rádio Brasil Central.